Setor externo: nova dinâmica do mercado - Monte Bravo

Setor externo: nova dinâmica do mercado

28/06/2024 às 14:51

28

Sexta

Jun

5 minutos de leitura
Compartilhar

Nova dinâmica do setor externo não está na conta do mercado, diz Monte Bravo

Uma nova dinâmica do setor externo brasileiro não está no preço dos ativos e tem potencial para impulsionar a bolsa. A redução dos “ruídos locais”, em especial em torno da política fiscal e da troca do comando do Banco Central, abriria caminho para que essa percepção chegue ao mercado, em um cenário também de início dos cortes dos juros na economia americana.

À Bloomberg Línea, Alexandre Mathias, head de Research da empresa de investimentos com R$ 35 bi em custódia, explica os motivos para o ‘otimismo cauteloso’ com a bolsa brasileira

Bloomberg Línea — Uma nova dinâmica do setor externo brasileiro não está no preço dos ativos e tem potencial para impulsionar a bolsa. A redução dos “ruídos locais”, em especial em torno da política fiscal e da troca do comando do Banco Central, abriria caminho para que essa percepção chegue ao mercado, em um cenário também de início dos cortes dos juros na economia americana.

A avaliação é de Alexandre Mathias, head de Research da Monte Bravo, agora corretora e uma das maiores casas de assessores de investimento do país, com R$ 35 bilhões em ativos sob custódia.

Alexandre Mathias

“O setor externo brasileiro mudou e isso ainda não está plenamente incorporado nem nos preços nem na percepção dos investidores. Mas, para que isso seja corretamente apreciado, é preciso menos ruído e mais credibilidade”, disse Mathias em entrevista à Bloomberg Línea.

Mathias, que assumiu o comando do time de research e o cargo de estrategista-chefe da Monte Bravo em setembro passado, foi anteriormente CEO da Kilima Asset, a gestora do grupo.

O executivo também tem passagens pelo Itaú Unibanco, pela BRAM (a gestora do Bradesco) e pela Petros, o segundo maior fundo de pensão brasileiro, no qual atuou como diretor de investimentos.

Nas últimas semanas, a volta das discussões sobre o arcabouço fiscal levou a uma piora dos ativos domésticos, com queda do Ibovespa (IBOV) e valorização do dólar.

O cenário de juros mais altos do que o esperado anteriormente também levou diferentes bancos e gestoras a revisaram para baixo suas projeções para o principal índice de ações do mercado brasileiro ao fim do ano.

O Santander (SANB11), por exemplo, cortou em maio a meta de fim de ano para o Ibovespa de 160.000 para 145.000 pontos – o fechamento na quarta-feira (26) foi de 122.641 pontos.

A Monte Bravo, por sua vez, reduziu nas últimas semanas o preço-alvo de 155.000 para 150.000 pontos em dezembro, dado o cenário fiscal, o que implicaria upside de 22,3%.

A empresa, que nasceu em 2010 como um escritório de assessores de investimento, fundada por Pier Mattei e Filipe Portella em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, recebeu o aval do Banco Central no início deste ano para se tornar corretora. A XP é sócia minoritária da casa.

Segundo Mathias, o principal driver para a bolsa brasileira será o aguardado início do ciclo de cortes de juros nos Estados Unidos.

Ele se disse otimista com a convergência da inflação em direção à meta nos EUA. No contexto de desaceleração em curso do índice de preços, o núcleo do PCE recuaria em direção a 2,6% ou 2,5% nos próximos meses e permitiria entre dois e três cortes de juros do Fed neste ano.

A avaliacão do economista é que uma sinalização do banco central americano em direção a cortes dos juros permitiria uma volta do dólar à casa dos R$ 5,00 e um avanço do Ibovespa, abrindo espaço para uma inflação em torno de 4,2% em 2024.

Para a Selic, a expectativa é a de manutenção em 10,50% ao ano, com uma volta do ciclo de cortes em março de 2025, desde que dissipado o ruído fiscal e que sejam alcançado um resultado primário igual ou melhor que o apresentado na pesquisa Focus, além do corte dos juros nos EUA.

Leia mais: Fundos brasileiros apostam em inflação ante dúvidas sobre próximos passos do BC

No âmbito doméstico, o driver é justamente o que Mathias descreveu como a nova dinâmica do setor externo brasileiro.

“Até alguns anos atrás [meados de 2015], o Brasil tinha uma balança comercial em torno de zero. Agora, vamos para US$ 100 bilhões de superávit e dizemos que é estrutural. Uma parte é o agro, outra, o ferro, e o que cresceu mais recentemente foi o petróleo.”

Mathias citou como exemplo a instalação de sondas de perfuração de poços de petróleo e gás da Petrobras (PETR3; PETR4) no passado e chamou a atenção para as novas que estão para entrar em operação, o que deve ampliar a exportação da commodity.

Devido ao aumento da incerteza fiscal, que tem levado a um prêmio de risco considerado relevante nos ativos brasileiros, a Monte Bravo tem adotado um tom mais cauteloso em sua carteira.

Mathias destacou a estabilidade de geração de lucro por parte de bancos como Itaú Unibanco (ITUB4) e BTG Pactual (BPAC11), por exemplo.

Enquanto o Itaú tem apresentado resultados “consistentes” em todas as suas frentes, tendo conseguido navegar a crise de inadimplência e expandir a carteira de crédito, o BTG Pactual tem registrado uma “ótima performance”, segundo o economista, com lucro recorde no primeiro trimestre.

A conjuntura adversa, contudo, tem levado à preferência de nomes mais defensivos, disse. É o caso do setor de utilities, com destaque para CPFL Energia (CPFE3), Equatorial (EQTL3), Copel (CPLE6) e Energisa (ENGI11).

A maior preocupação com a influência política nos rumos da economia e com o aumento dos gastos do governo tem contribuído para uma aversão ao risco, que se soma à cautela provocada pela perspectiva de taxas de juros mais altas por mais tempo nos Estados Unidos.

O Ibovespa caiu quase 9% neste ano até a quarta-feira (26), uma das maiores quedas entre os principais índices globais. O índice tem oscilado em torno de 120 mil a 130 mil pontos na maior parte de 2024, distante de um recorde de cerca de 134 mil pontos no fim do ano passado. O dólar se fortaleceu e saiu do patamar de R$ 5 algo em torno de R$ 5,50.

“Dada a pressão no câmbio, o sistema político tem mais sensibilidade. O governo deve preparar um conjunto de medidas no começo de julho com o contingenciamento de R$ 20 bilhões a R$ 30 bilhões, um pacote razoável que coloca a trajetória do primário com déficit de 0,7%”, disse Mathias.

Segundo ele, é preciso mais credibilidade, isto é, reforçar a mensagem de que o Banco Central vai continuar a entregar um bom trabalho independentemente de quem estiver no comando – o mandato de Roberto Campos Neto se encerra no fim deste ano, após seis anos no cargo.

No lado fiscal, o estrategista disse que o arcabouço fiscal foi aceito pelo mercado financeiro, mas que declarações recorrentes sobre o aumento dos gastos públicos, mais recentemente diante da tragédia no Rio Grande do Sul, tira a credibilidade com o compromisso do governo.

“Tirando o ruído do fiscal, a economia continua a crescer e a inflação está sob controle. Sem o ruído fiscal, [o BC] poderia continuar a cortar os juros”, completou.

Notícia publicada em Bloomberg Línea

Artigos Relacionados

  • 21

    Segunda

    Out

    21/10/2024 às 14:28

    Sala de Imprensa

    China: Ibovespa em queda em mais uma decepção

    A (mais uma) decepção com as medidas anunciadas pela China fazem a Vale (VALE3) devolver todos os ganhos do dia anterior e derruba o Ibovespa na sessão desta quinta-feira, 17. A bolsa opera em queda de 1,23% aos 130.128 pontos com todos os ativos no negativo. Com a frustração, o contrato de janeiro do minério …

    Continue lendo
  • 21

    Segunda

    Out

    21/10/2024 às 14:00

    Sala de Imprensa

    Dólar fecha no maior nível em mais de 2 meses

    O dólar à vista subiu nesta terça-feira ao maior nível desde 6 de agosto, numa soma de fatores locais e externos que resultaram em pressão cambial. Internamente, depois do otimismo com o lançamento de um pacote de contenção de gastos após a eleição municipal dominar as atenções ontem, o investidor hoje ficou sensível a detalhes …

    Continue lendo
  • 21

    Segunda

    Out

    21/10/2024 às 13:20

    Sala de Imprensa

    Bolsa brasileira: analistas projetam 140 mil pontos em dezembro

    Desde 28 de agosto, quando o Ibovespa fechou em patamar recorde, a Bolsa brasileira acumula perda de 4,76% – considerando o fechamento de quinta-feira (17). Mesmo quando as ações atingiam níveis inéditos, analistas ainda consideravam os preços baratos e até projetavam o Ibovespa em 140 mil pontos. Após as correções, a percepção é de uma …

    Continue lendo

Fechar

Loading...