A ausência de clareza na conduta fiscal do governo brasileiro reforça a necessidade de uma postura defensiva do investidor neste momento, recomenda a primeira Carta Mensal de 2025 da Monte Bravo, enviada com exclusividade ao Broadcast. Segundo a corretora, a política fiscal expansionista atual exige juros reais elevados, levando o risco de um cenário pessimista se concretizar. Neste caso, o Ibovespa cederia aos 100 mil pontos. Contudo, se prevalecer as estimativas otimistas, o índice teria fôlego para subir até os 138 mil pontos no final de 2025.
“Não é o momento para investir em empresas alavancadas sem garantias reais relevantes, pois o custo da dívida tende a permanecer elevado por um longo período”, afirma o estrategista-chefe da Monte Bravo, Alexandre Mathias. O ideal, sugere, é focar em companhias com baixo endividamento e com posição dominante de mercado.
Na ausência de sinalização sobre novas medidas para ajustar o crescimento “descontrolado” do gasto público, a Monte Bravo optou por atribuir 50% de chance ao cenário base e 50% de probabilidade ao cenário pessimista.
No primeiro caso, as novas medidas fiscais contribuem para estabilizar o dólar em torno de R$ 6,00. Mas, sem um ajuste adicional, prevalece a segunda opção, e dólar tende a ultrapassar a marca de R$ 7,00 de forma rápida para fechar o ano em R$ 7,50 – “o que vai desorganizar ainda mais a economia”.
Na avaliação de Mathias, se o governo insistir em mecanismos para contornar o orçamento, aumentando o gasto parafiscal, levará a uma crise similar à de 2014/2016. Como explica, a desorganização da economia vai gerar uma recessão, com o PIB crescendo zero em 2025, a perda das âncoras fiscal e monetária jogará o IPCA para os 9%. Consequentemente, com menos crescimento, a dívida subirá para a 93% do PIB em um quadro de dominância fiscal e crise em 2026.
Já no cenário base da corretora, o governo evita exacerbar a incerteza e sinaliza com os ajustes necessários. A falta de credibilidade impede uma melhora substancial, mas os preços dos ativos estabilizam e se recuperam ao longo do ano, pontua.
Para a Monte Bravo, quem tem apetite para risco e suporta a volatilidade pode aplicar em taxas que, historicamente, sempre produziram ganhos em horizontes maiores do que 2 anos. Assim, estima que a curva de juros pode recuar de 0,50 ponto a 0,70 ponto porcentual e o cupom da NTN-B 2045 que está acima de 7,30%, nos níveis mais altos desde de 2015, pode cair para a faixa de 6,75%.
Neste cenário, mesmo com juros mais altos e crescimento menor, o Índice Bovespa ainda teria fôlego para subir até os 138 mil pontos. “Embora a perspectiva para o Ibovespa seja abaixo do CDI, muitas estratégias ativas podem levar a retornos bem acima disso e, por isso, faz sentido manter uma alocação – preferencialmente com capital protegido”, avalia.
China X Trump
Na visão de Mathias, é possível que a China esteja aguardando o choque tarifário da nova gestão de Donald Trump nos Estados Unidos para parametrizar sua reação. O cenário base da Monte Bravo prevê uma nova rodada de estímulos chineses, com uma expansão moderada do déficit, capaz de estabilizar o crescimento em torno de 4,5%. “Um cenário no qual qualquer enfraquecimento adicional teria impactos relevantes sobre os países emergentes exportadores de commodities, como o Brasil”, estima.
A implementação de tarifas prometidas por Trump na campanha eleitoral tende a manter o dólar forte, mas o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) deve seguir cortando os juros, prevê Mathias.
Notícia produzida pela equipe do Broadcast.