Cenário-1: Juros caem após dados de inflação e mercado eleva aposta em corte da Selic em janeiro

24/10/2025 • 4 mins de leitura

As leituras do IPCA-15 e do índice de preços ao consumidor dos Estados Unidos, ambas abaixo do esperado, abriram espaço para a redução dos juros de Treasuries e das taxas de DI e levaram os investidores a aumentar a aposta de corte na Selic em janeiro de 2026. Com isso, tanto as bolsas em Nova York quanto o Ibovespa ganharam força, embora sigam no radar preocupações com o impasse orçamentário nos Estados Unidos – que continua sem perspectiva de solução – e com o horizonte fiscal no Brasil – dada a ausência de medidas do governo para compensar a perda de arrecadação decorrente da caducidade da Medida Provisória 1.303. O dólar operava praticamente estável, embora mais cedo tenha chegado a cair de forma generalizada. A moeda se recuperou após dados mostrarem expansão da atividade industrial e de serviços nos EUA e com um movimento de realização intradia.

Bolsa

O alívio na inflação brasileira e americana estimula alta do Ibovespa, dada a perspectiva de novas quedas nos juros dos Estados Unidos e de início de corte na taxa Selic. Neste contexto, o principal indicador da B3 chegou a saltar cerca de 1.500 pontos, indo para o nível dos 147 mil pontos, visto no final de setembro.

Porém, no início da tarde o Índice Bovespa esmorecia, em meio a renovadas preocupações político-fiscais, queda do minério e prejuízo da Usiminas, apesar do avanço firme das Bolsas de Nova York. Por lá, é bem avaliado o CPI de setembro, que, na visão de analistas, reforçou afrouxamento monetário na semana que vem e em dezembro pelo Federal Reserve (Fed). Além disso, há expectativas pelo encontro entre os presidentes dos EUA e da China, na quinta-feira que vem, para discutir tarifas.

A perda de vigor do Ibovespa reflete principalmente temores fiscais, após pesquisa elaborada pela AtlasIntel e a Bloomberg mostrar que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceria a disputa pela Presidência ainda em primeiro turno no ano que vem. Contra todos os oponentes da direita, o petista tem 51% das intenções de voto ou mais.

“O CPI americano abriu fluxo para o Ibovespa na abertura, mas diminuiu à metade”, descreve Thiago Lourenço, operador de renda variável da Manchester Investimentos. “Começa a pesar o cenário local, com pesquisas colocando Lula à frente. O mercado tem a tese de que um nome da oposição deveria ganhar a eleição de 2026, pois não acredita que o atual governo, caso seja reeleito, consiga endereçar o fiscal, fazer ajustes”, explica Lourenço.

Nos EUA, o indicador de inflação predileto do Fed, o CPI foi divulgado apesar da paralisação do governo de Donald Trump. Isso porque o índice é utilizado para calcular o ajuste de custo de vida dos cidadãos do país, no caso agora para 2026.

O CPI subiu 0,3% em setembro ante agosto (mediana em 0,4%). Na comparação anual, avançou a 3% em setembro, ante estimativa de 3,1%. Assim, ganhou força a aposta de um corte adicional acumulado de 50 pontos-base (pb) nos juros dos Estados Unidos até o fim de 2025.

“O CPI foi uma surpresa bem positiva, porque não era esperado que a inflação arrefecesse. Se inflexão da inflação começar a moderar, pode-se ganhar cada vez mais confiança a tese de se ter mais cortes de juros: três em 2025 e mais três em 2026”, avalia Bruno Takeo, estrategista da Potenza Capital. Segundo ele, este cenário poderia permitir ao Comitê de Política Monetária (Copom) também iniciar o processo de queda da Selic.

Também informado hoje, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15) desacelerou a alta a 0,18% em outubro, após 0,48% em setembro, acumulando 4,94% em 12 meses (de mediana em 5%), acima do teto da meta de 4,50%. A taxa mensal ficou abaixo da mediana das estimativas encontrada em pesquisa feita pelo Projeções Broadcast, de 0,24%.

Após a divulgação, o economista-chefe da Monte Bravo, Luciano Costa, reduziu a projeção do IPCA de outubro de 0,27% para 0,20%. Além disso, diminuiu a estimativa para o IPCA fechado em 2025, de 4,7% para 4,6%.

Na visão de Costa, da Monte Bravo, até o início de 2026, a inflação projetada pelo Banco Central para o horizonte relevante estará em linha com a meta (centro de 3% e teto de 4,5%). “Isso deve levar a autoridade monetária a iniciar o ciclo de cortes de juros a partir de janeiro de 2026, reduzindo a taxa Selic para 11,0% em dezembro de 2026”, afirma o economista.

Já a economista-chefe da Galapagos Capital, Tatiana Pinheiro, mantém expectativa de inicio de corte de juros em dezembro. Contudo, avalia que o Banco Central deve manter o tom cauteloso na avaliação do comportamento da inflação apesar dos resultados sinalizando o processo de desinflação.

Além das preocupações fiscais, pesam no Índice Bovespa a queda de 0,58% no preço do minério de ferro hoje em Dalian, o prejuízo trimestral da Usiminas e a incerteza quanto a tarifas. A poucos dias do encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e seu homólogo, o americano Donald Trump, no domingo, o petista disse nesta sexta-feira que não espera um acordo imediato.

A Usiminas informou prejuízo líquido de R$ 3,503 bilhões no terceiro trimestre de 2025, revertendo lucro de R$ 185 milhões registrado um ano antes e de R$ 128 milhões no segundo trimestre deste ano. As ações caíam 1,21%, às 12h34, após cedem mais de 5% mais cedo.

Às 12h35, o Índice Bovespa subia 0,34%, aos 146.212,45 pontos, ante alta de 1,04%, na máxima a 147.239,76 pontos, e mínima de abertura em 145.720,98 pontos, com valorização de 0,02%. Na semana, avança 1,92%, quase zerando a queda do mês (-0,02%).

Vale cedia 0,03% e Petrobras zerava a alta: ON caía 0,03% e ON subia 0,13%. O dólar à vista virava para o positivo, mas os juros futuros caíam. Ações de grandes bancos tinham sinais divergentes, com alta de 1,12% em Unit de Santander; BB caía 0,34%. A maior alta da carteira era Magazine Luiza, com 2,80%, e a maior queda, Marfrig (-2,56%). (Maria Regina Silva – reginam.silva@estadao.com)