Estruturação de dívida e captação de equity - Monte Bravo

Estruturação de dívida e captação de equity

22/07/2024 às 09:57

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Segunda

Jul

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“Vamos seguir ganhando espaço em estruturação de dívida e, aos poucos, enveredar por special situations e equity”

“Vamos seguir ganhando espaço em estruturação de dívida e, aos poucos, enveredar por special situations e equity”
Eduardo Levy, Head da área de Mercado de Capitais da Monte Bravo

A área de mercado de capitais da Monte Bravo, uma das maiores corretoras independentes do país com R$ 40 bilhões sob gestão, tem apenas um ano de voo solo e acumula em estruturação de dívida e captação de equity de R$ 700 milhões.

No comando da operação, Eduardo Levy, executivo com mais de 30 anos de experiência no mercado financeiro. Acumula passagens como sócio do Banco Garantia, como diretor de Multiativos & Portfólios da Rio Bravo, e 11 anos atuando no mercado americano onde estruturou e geriu um plano global de diversificação de investimentos para family offices americanos e canadenses. 

O head da área de Mercado de Capitais da Monte Bravo trabalha para alcançar o primeiro R$ 1 bilhão em operações ainda neste ano e para dobrar, em 2025, produtos voltados para investidores de todos os perfis, de institucionais, como gestoras, fundos de pensão e estrangeiros, como multifamily offices e investidores individuais.

Recentemente, participou da originação, estruturação e distribuição de três CRIs para Netcorp (R$ 91 milhões); Terracap (R$ 214 milhões); e Edificatto (R$ 70 milhões). Em entrevista ao Além do Capital, Levy fala sobre o primeiro ano da área de Mercado de Capitais da corretora, dos planos de crescimento e dá sua visão sobre mudanças recentes no mercado, envolvendo lastro para CRIs e CRAs, além da criação da debênture de infraestrutura.

Ao longo dos seus 34 anos de experiência no mercado financeiro, quais os principais avanços e como o mercado de capitais está posicionado hoje?

O mercado financeiro brasileiro, desde os anos 90 e começo de 2000, sempre foi mais desenvolvido do que outros mercados semelhantes. Ao longo dos anos 2000, a CVM fez um bom trabalho, a legislação foi sendo criada para que instrumentos de renda fixa pudessem realmente ter a sustentação legal. Os fundos imobiliários, que já existem, na verdade, tiveram um boom a partir de 2012, quando a taxa de juros veio para baixo.

O número de CPFs na Bolsa, que chegou a ser de 200 mil, hoje está em quase 3 milhões. E seguimos avançando com um Banco Central, a meu ver, extremamente competente, promovendo modernização, uma abertura para que instrumentos de negociações ficassem mais fáceis. Sem falar no boom de novos instrumentos, como CRI e CRA, que agora passam por um certo amadurecimento, normalização. Eu acho que, mais recentemente, de 10 anos para cá, os grandes protagonistas foram os fundos imobiliários, em menor grau, e em maior grau, até pelo volume, os instrumentos de mercado de capitais.

Você citou CRI e CRA, que recentemente passaram por mudanças de lastros definidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Foram adequadas?

Eu acho que o movimento de cima para baixo, que o CMN fez, apesar de ter ficado na garganta da CVM, foi muito bom. Era necessário restringir o lastro. Instrumento como LCI, LCA, CRI, CRA ou LIG foram criados com isenção, diferente do FII que não é isento, mas tem alíquota zero. Se houver pressão ou necessidade, a alíquota zero com uma canetada pode ser de 10% ou outro valor.

Quando o CMN decidiu restringir o lastro está dizendo, claramente, criei o produto isento para esta ou aquela finalidade. E que a ordem era para que voltassem a ter a função para a qual foram criados. A decisão não só foi extremamente correta, como dá uma segurança maior de que esses instrumentos vão ser protegidos em novas etapas de uma Reforma Tributária. Quando você tem abusos é mais fácil mudar radicalmente. É mais fácil defender o produto se ele está sendo usado de forma adequada.

A expectativa era que as mudanças do CMN derrubassem o mercado de certificados de recebíveis, mas não ocorreu. Por quê?

O mercado acabou se abrindo para incorporadoras menores, para gente que nunca acessou o mercado. Vamos entender que quando você não tem tanta LCI e LCA e o dinheiro do FGTS e da caderneta de poupança está menor, o mercado de capitais passa a ser uma saída interessante para o tomador. Cada vez mais a gente ouve grandes empresas dizendo que preferem ir ao mercado de capitais do que tomar dinheiro no plano empresário, por exemplo.

Quais as vantagens oferecidas pelo mercado de capitais têm atraído as empresas?

Quando ele toma dinheiro no plano empresário com determinado banco, o Bradesco, por exemplo, a uma taxa definida e pelo período acordado, se o projeto necessita de R$ 100 milhões, o banco empresta aquele valor no ato e a empresa já está incorrendo nos custos, pagando por aquele montante, mesmo não precisando de dinheiro de imediato.

Quando o cliente vem ao mercado de capitais, ele é o foco. As condições são sob medida. Para determinada condição de mercado, valor e prazo, a taxa é IPCA mais 9%, para outra é mais 10% ou 12%, etc. Uma incorporadora grande, por exemplo, que tem um empreendimento em fases, vai pegando o dinheiro aos poucos, conforme o avanço das obras, e economiza. Se de repente não precisar da quarta série, porque as vendas foram fortes o suficiente, não tem problema, cancela a quarta emissão daquele papel. Não tem descasamento bobo.

O que falta para as empresas se abrirem ainda mais para os diferentes instrumentos do mercado de capitais?

A securitização, por exemplo, não é algo novo, mas parece que surgiu agora. Falta conhecimento por parte das empresas. O grande empresário, que sempre teve acesso a um dinheiro mais barato, ainda tem, em sua grande maioria, um preconceito com relação ao mercado de capitais. Agora um pouco menos graças à diminuição dos spreads para colocação de debêntures incentivadas no mercado. Tem grandes nomes emitindo a 103% de CDI, 104% de CDI, mas ainda falta um pouco. A construtora menor conhece menos ainda dos produtos.

Precisam entender o valor que isso traz para o negócio. E aqui entra outro fator importante, que é preparar esse incorporador que nunca utilizou o mercado de capitais para que ele tenha a governança certa, para que seja auditado. O mercado entrou em um novo nível de profissionalismo que não tem volta. E tem grandes incorporadoras em São Paulo que nem gostam de serem auditadas porque, honestamente, é muito mais fácil você botar tudo no mesmo bolo. É uma caixa para tudo. Mas eu vejo muita gente, até fora do eixo Rio-São Paulo, se organizando muito bem.

Que regiões se destacam?

No Centro-Oeste, isso vem acontecendo com uma frequência enorme.

Nós estamos fechando três operações. Uma em Primavera do Leste, no Mato Grosso. Uma em Goiânia, Goiás. E a outra no Distrito Federal. O Centro-Oeste é um foco importante para a gente. Fora do Sudeste, o Sul também avança no uso do mercado de capitais. Vamos entender que são regiões que têm um DNA agro muito forte.

E agro é mais familiar, conservador e amador, não gosta de dívida. Além disso, a legislação é complicada e favorece a operação do agronegócio na pessoa física. A gente deveria ter uma reforma que permitisse que isso fosse trabalhado numa holding patrimonial, sem perdas fiscais significativas, para que, através dessa estrutura, ele possa tomar recursos.

No ano passado, tivemos problemas de inadimplência com CRAs. O que deu errado? Faltou avaliação adequada do risco?

Resposta simples e direta, sim. Eu acho que vários dos CRAs não tinham garantias adequadas, mas quando você faz um CRA, a gente nunca pensa que precisa ter esta ou aquela garantia. Até porque é um seguro que compramos para não ser usado.

A gente não quer executar. O maior pecado da Faria Lima, vamos usar o coletivo da Faria Lima, foi modelar incorretamente o risco e a capacidade de pagamento desses tomadores. Aí a gente entra numa outra questão que é executar essas garantias. A gente ainda tem um problema de localização. Se isso está sendo decidido numa vara em São Paulo, é uma coisa. Se isso está sendo decidido na Bahia, é outra. E aí você vai acabar ficando meses ou anos para uma execução.

O mercado de crédito privado avançou muito nos últimos anos, apesar de uma crise como Americanas e Light. O mercado tem aprendido as lições e melhorado o controle de risco?

Ontem mesmo, eu falava do nosso avanço no comitê de riscos de compliance. E que é preciso olhar para a carteira global, sobre custódia, gestão, entender quanto é muito para ter aqui dentro, quanto não é. Eu não quero ser o único credor de nenhuma empresa.

Aquela história quando a empresa me deve R$ 20 milhões, o problema é dela, mas quando ela me deve R$ 100 milhões, o problema é meu. Aqui eu faço uma crítica aberta. Eu comecei a minha carreira em auditoria, na Price (PWC), acompanhei todos os problemas que aconteceram. E em todos você tinha o papel importante do auditor. O auditor de uma empresa, como é o caso das Americanas, é condescendente. Não dá para tirar essa responsabilidade deles.

O que levou a Monte Bravo a criar uma área para o Mercado de Capitais?

Em 2021, a gente fez uma primeira captação, uma captação grande para a Oakberry (franquias de açaí). Eu coordenei a operação, que estava na mão do BTG, mas lá não ficou de pé. Nós conseguimos com criatividade, na Kilima Asset, gestora da Monte Bravo que ajudei a montar.

Hoje, atuando como corretora, a Monte Bravo é uma holding com várias empresas embaixo, como as gestoras Kilima e a Monte Bravo Family Office. Em 2022, a gente seguiu fazendo operações em volumes relevantes e, no ano seguinte (2023), segregamos a área de Mercado de Capitais que eu comando. É uma necessidade de governança, de segregação, de funções de risco.

A área foi criada no segundo semestre do ano passado, período ainda difícil devido ao evento Americanas e Light. Como foi o desempenho?

Os primeiros seis meses ficaram um pouco aquém do esperado. A gente ainda não acessava a base da Monte Bravo. Desde o começo, sempre fizemos tudo muito institucional. No primeiro ano, fizemos R$ 400 milhões em operações. Esse ano, a gente vai passar de R$ 1 bilhão em estruturação de dívida, fora algumas outras operações que a gente vem trabalhando.

E quais os instrumentos do mercado estão no foco de vocês?

A grande fonte de sustentação de uma área de Investment bank, de uma área de crédito, é a estruturação. É debt capital markets. Não tem jeito. A gente vai continuar crescendo em estruturação de dívida e aos poucos, enveredando por special situations e equity. Em fundos, já temos um imobiliário que levantou R$ 150 milhões para uma tese de investimento em casas de altíssimo padrão. Queremos crescer mais em CRI.

Eu diria que menos em CRA. O CRA vive um momento difícil, mas vamos entender que 40% do PIB é agro. A gente tem que olhar para as empresas, tem que olhar para os seus mercados e entender qual é o cenário daqui para frente. A gente olha bastante para o CRI e o CRA. FIDC eu acho que é um pouco mais difícil, até estruturamos um fundo, mas a gestão não é nossa.

O que vem pela frente?

Em pouco tempo estaremos habilitados para coordenar emissões, com base na 160. Temos uma parceria com o Citi para olhar para as grandes empresas. Está prestes a sair. A ideia é que a gente faça isso para operações nossas e para sindicatos. Nós vamos buscar sindicatos grandes. Uma coisa a entender da Monte Bravo é que ela já nasce como a maior corretora independente do país. E temos sinergias importantes.

Como está o desempenho neste ano?

O primeiro semestre foi uma grande surpresa, colocamos quase R$ 500 milhões em produtos exclusivos. E, no segundo semestre, a gente está olhando para algo entre R$ 800 milhões e R$ 1 bilhão de produtos exclusivos, conhecendo a forte demanda mensal dos bolsos que estão na Monte Bravo Corretora e do potencial para ser o grande tomador dos recursos que originamos.

A gente (corretora) vai ter uma demanda de R$ 3,5 bilhões a R$ 4,5 bilhões. Se pudermos colocar de 20% a 25% disso em produtos exclusivos, a gente vai estar no caminho certo. Olhamos para operações de R$ 80 milhões a R$ 200 milhões. Essas operações vão permitir que por uma operação estratégica, por um cliente estratégico que demande uma operação menor, de R$ 30 milhões, eu tenha braços, equipe e interesse em fazer.

Quando você fala em produtos exclusivos da corretora, qual a distribuição ideal entre a base da Monte Bravo e os clientes externos?

A gente começou o ano olhando para 85% fora do grupo contra 15% dentro. Para o segundo semestre, já está 50% e 50%. A gente fechando com R$ 1 bilhão em operações neste ano, em 2025 dá para dobrar, a R$ 2 bilhões e trabalhar com 35% fora e 65% interno.

Tem muito a explorar na base da Monte Bravo até pelo tamanho da corretora, mas com governança. A gente tem o nosso comitê interno de pipeline, o nosso comitê interno de estruturação e tudo passa por um cronograma para testar com a área de produtos, com os alocadores, taxa, tamanho e distribuição. Depois, a operação vai para um comitê da Monte Bravo e precisa ser aprovada com pelo menos 75% dos votos a favor.

Este ano a novidade é a criação da debênture de infraestrutura. Qual a sua visão do novo produto?

Debênture de infraestrutura ainda não fizemos, aliás, o mercado ainda não emitiu o novo papel. Pode virar um mico. A vantagem para a empresa é que deveria precificar na própria debênture para incentivar o comprador final.

Para mim, este incentivo não é tão claro. Eu acho que foi um erro. O que deveria ser feito é você poder dar uma abrangência maior à debênture incentivada. Eu preferia trabalhar com a debênture incentivada que já existe do que uma debênture de infra que hoje a gente ainda não tem o suporte legal necessário e não há uma vantagem grande para os fundos investirem. Na verdade, o novo papel ficou bem restrito dentro do modelo proposto. Vamos ver o que vai acontecer.

Atuar no mercado de ações, IPOs ou follow-ons está no radar?

Não. Eu prefiro ver um Brasil com uma taxa de juro estável em 8,5%, 9% por três anos do que ficar olhando para 7%, 14%, 12%, 8%, 2%. A volatilidade é pior. Uma inflação de 4% é razoável no Brasil de hoje. É importante que o país tenha essa estabilidade durante um tempo para dar visibilidade ao empresário, para que ele invista mais, use mais o mercado de capitais.

Quando o juro cai, por exemplo, a 9% quem começa a gastar é a pessoa física via crediário. Mas o empresário já passou por isso, ele fica com um pé atrás, ele demora um pouco para contratar, investir. Ele precisa ter uma previsibilidade para dizer ‘três anos eu consigo apostar que o juro vai ficar em torno de 8,5% e vou investir’. É assim que se estabelece um ciclo virtuoso que não é muito normal no Brasil.

Entrevista publicada no portal Capital Aberto

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