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21/02/2024 • 4 mins de leitura
Cenário econômico e política fiscal no Suno Notícias
Cenário econômico: com a aprovação pelo Congresso, a execução do…
São Paulo, 14/10/2025 – Após o início do ciclo de redução dos juros nos Estados Unidos e com a proximidade do corte no Brasil, a Monte Bravo projeta o Ibovespa entre 170 mil e 180 mil pontos para os próximos 12 meses. Nesse ambiente, os segmentos de construção, consumo e empresas com alta alavancagem devem ser beneficiados, avalia à Broadcast o estrategista-chefe da corretora, Alexandre Mathias. A casa possui mais de R$ 45 bilhões sob custódia, com a meta de alcançar R$ 100 bilhões nos próximos anos. Além do fluxo estrangeiro, ele argumenta que o desempenho da Bolsa deve ser impulsionado também pela volta dos investidores domésticos, atraídos pela alta causada pelo capital internacional e redução da Selic. A eleição presidencial, por sua vez, deve começar a influenciar mais os preços apenas no próximo ano e na proximidade do pleito, após a definição das candidaturas, segundo Mathias. A corrida ao Planalto, contudo, tende a ser bastante acirrada, na avaliação do estrategista. Leia a seguir a entrevista:
Broadcast: Qual a previsão da Monte Bravo para a Bolsa brasileira?
Alexandre Mathias: Desde maio temos uma previsão de 150 mil pontos para o Ibovespa ao fim de 2025. Fomos uma das primeiras corretoras a ter esse target. Agora nos perguntamos se revisamos ou mantemos. Além disso, projetamos o Ibovespa entre 170 mil e 180 mil pontos no prazo de 12 meses, véspera da eleição. O desfecho dependerá muito do pleito. Seguimos com uma visão positiva, mas talvez haja menos potencial de valorização do que até agora, mas nossa visão é construtiva.
Broadcast: Quais fatores contribuem para essa visão?
Mathias: A visão sobre os ativos brasileiros é construtiva, mas não por fatores domésticos. O que move o mercado é a curva de juros americana e o dólar. Não é só o Ibovespa que bate recorde. Ouro, Nikkei, S&P, Russell 2000 e Nasdaq também estão nas máximas. Portanto, não se trata de fatores particulares de um único mercado. Há um elemento global: dólar enfraquecendo e juros nos Estados Unidos em queda. São esses dois vetores que impulsionam os ativos. Daqui para a frente, o driver será o corte de juros no Brasil.
Broadcast: E qual a previsão da casa para a Selic?
Mathias: O mercado trabalha com expectativa de corte de 250 pontos-base, mas esperamos queda de 400 pontos. Projetamos a Selic de 15% para 11%. Nesse ambiente de redução dos juros, alguns setores se destacam de imediato. Construção, cíclicos domésticos e consumo ganham muito. Empresas altamente alavancadas sentem grande alívio.
Broadcast: E o fluxo estrangeiro?
Mathias: O segundo motor para a alta da Bolsa é o fluxo estrangeiro. Temos visto entrada de capital externo, mas ainda sem grande volume. O Brasil representa 4,2% do MSCI Emerging Markets. Se o mercado se convencer de que haverá compressão relevante dos múltiplos por causa da queda dos juros, é razoável imaginar que fundos dedicados façam uma sobrealocação. O País pode ser um grande case no ano que vem. O estrangeiro observa o crescimento do PIB e o corte de juros. Com desaceleração suave e redução significativa da Selic, o investidor externo enxerga oportunidade. Eles avaliam, de forma simples, o P/L (preço/lucro) da Bolsa, hoje em torno de 9 a 9,5 vezes, ante média de 11 a 11,5 vezes. Há, portanto, potencial de alta de 20% apenas com a normalização do múltiplo. Além disso, um dólar mais fraco é visto como benefício. Acreditamos, porém, que o fluxo virá mais de realocação tática de carteiras do que de alocação estrutural.
Broadcast: Há outros fatores?
Mathias: Um terceiro vetor de fluxo é o investidor doméstico, hoje muito ausente da Bolsa, tanto institucionais quanto pessoas físicas e fundos multimercados. Se houver maior entrada estrangeira, o investidor local tende a acompanhar. Esse movimento pode ampliar o potencial de alta no ano. Todos esses elementos devem jogar a favor.
Broadcast: E como a eleição presidencial deve influenciar esse cenário?
Mathias: Esse cenário não deve se alterar nos próximos 12 a 18 meses. Até a eleição, fatores externos devem predominar no movimento dos preços. A eleição é um tema central, todos vão comentar, mas deve fazer pouco preço, pois promete ser muito apertada.
Broadcast: O que você espera dessas eleições?
Mathias: Vejo um copo meio cheio e meio vazio. De um lado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, político mais popular da história do País e incumbente. A economia está performando bem: o Brasil cresce há vários anos, embora deva desacelerar um pouco; a inflação está acima da meta, mas aceitável. Seria natural considerar Lula favorito, mas as pesquisas não indicam isso. Isso não significa, porém, que o desafiante seja favorito. Os modelos de aprovação de governo mostram que, abaixo de 30%, o incumbente raramente vence; acima de 40%, o desafiante tem pouca chance; entre 30% e 40%, a eleição é apertada. Hoje, o índice aponta para disputa acirrada.
Broadcast: Quais temas o mercado vai acompanhar nessa corrida eleitoral?
Mathias: Há preocupação com a situação fiscal: a trajetória da dívida é explosiva. Um emergente não pode sair de 71,7% do PIB, nível de 2022, para 85% ou 86% em 2027. O próximo presidente terá de enfrentar isso.
Broadcast: Como está estruturada a estratégia da Monte Bravo?
Mathias: Montamos a carteira com três estratégias. A primeira é Estrutural, com empresas de qualidade a preços razoáveis, como Itaú, BTG Pactual e Weg. A segunda é Momento, que captura papéis em forte alta. A terceira é Oportunidades, focada em eventos societários ou preços defasados.
Broadcast: Quais são os destaques da carteira hoje?
Mathias: No bloco Momento, temos Direcional e os ETFs SPXR11 e SMALL11. Em Oportunidades, Neoenergia, Iguatemi e Nubank. Na Estrutural, Itaúsa, Weg, Suzano, Vale, Rede D’Or, Sabesp, Eletrobras, Equatorial e BB Seguridade.
Broadcast: Pode falar um pouco sobre a visão de Rede D’Or?
Mathias: A Rede D’Or tem performado muito bem e, em múltiplos, é considerada barata. Consegue expandir margem com integração de novas unidades, padronização de procedimentos e programa agressivo de leitos. A melhora dos indicadores da SulAmérica reforça o quadro. É uma consolidadora.
Broadcast: A questão da alavancagem preocupa?
Mathias: Observamos, mas, quando a empresa alavanca, cresce e entrega resultado, mostra uso eficiente do capital. E a dívida não é preocupante.
Broadcast: Pode comentar um pouco também sobre Sabesp?
Mathias: Desde a privatização, Sabesp é aposta de ganho operacional e eficiência, já visíveis nos resultados.
Broadcast: E Direcional?
Mathias: Pelo critério de performance consistente, Direcional é a melhor construtora. Há cinco anos apresenta bons resultados em diferentes conjunturas, superando concorrentes.
Broadcast: E o setor de varejo?
Mathias: Com o corte de juros, um varejista deve entrar no nosso portfólio, mas ainda é cedo. Esses papéis são sensíveis. Não é bom queimar largada. Com a economia desacelerando e cortes ainda distantes, os drivers são incertos.
Broadcast: E sobre Weg e o setor de papel e celulose?
Mathias: Há 15 anos a Weg performa bem em qualquer cenário: empresa de qualidade a preço razoável. Após as quedas recentes, está atrativa. Não deve disparar no curto prazo, a própria companhia indicou resultados mais fracos. Weg e Suzano têm receitas em dólar e funcionam como proteção, reduzindo volatilidade.
Broadcast: E Vale?
Mathias: Vale depende de a China estimular atividade, e vemos boa chance disso. O call, porém, é a melhora operacional: melhor alocação de capital, ganhos de eficiência, resultados superiores. Vale está descontada frente aos pares. Após o acordo de Mariana, se entregar trimestres positivos, o desconto tende a diminuir.
Entrevista produzida por Beth Moreira e Vinicius Novais, para o Broadcast.