MB Sócios
17/09/2021 • 2 mins de leitura
O que a tensão entre os três poderes pode ensinar ao investidor?
Por Rebeca Nevares, Sócia da Monte Bravo. Se você conversar…
Por Rebeca Nevares, Sócia da Monte Bravo.
No início do mês repercutiu em toda a imprensa a fala do Ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre o rompimento do teto de gastos. Segundo ele, romper a regra, que é constitucional, “tacaria fogo no país”. Mas o que aconteceria caso isto de fato ocorresse? Se você acha que o mercado simplesmente desabaria, leia este artigo até o fim.
Em primeiro lugar, vale uma contextualização sobre “pegar fogo”. Todos sabem que o Brasil vinha em um ritmo interessante de reformas e projetos de concessão que, sem dúvida nenhuma, foram atrapalhados pela pandemia. Empresas diminuíram o ritmo dos investimentos, o fiscal do país se deteriora rapidamente e a dívida pública brasileira se aproxima de 100% do PIB.
E isto é um problema sério, pois em um cenário como este, o Estado perde a capacidade financeira afetando o volume de recursos direcionados para áreas fundamentais como infraestrutura e saneamento.
Além disso, quando o risco/país aumenta e as expectativas em relação à política fiscal de longo prazo pioram, o prêmio cobrado pelo mercado é maior. Na prática fica mais caro para o governo pegar dinheiro emprestado.
No início de setembro a Moody’s, famosa agência internacional de classificação de risco, apontou o teto de gastos como a principal âncora fiscal do Brasil. E destacou que um eventual abandono da ferramenta sem uma contrapartida realista poderia prejudicar a retomada econômica.
Além do mais, quando há este tipo de incerteza, o investidor fica receoso e acaba retirando seus recursos do país em busca de ativos mais atraentes no exterior. Hoje, por exemplo, a nota do Brasil estabelecida pela própria Moody’s é de “Ba2”, abaixo do grau de investimento.
Isto sem falar no risco político e jurídico que o presidente da república correria caso a regra fosse quebrada.
Para ilustrar um pouco do que eu quero dizer, podemos olhar para algumas informações recentes do nosso Banco Central sobre o fluxo cambial. Os dados do órgão mostram que desde o início de 2020 já foram retirados mais de US$15 bilhões do país, o maior volume já registrado desde o início da série.
Respondendo de forma objetiva o questionamento inicial do artigo, uma eventual quebra no teto de gastos pode fazer com que realmente o mercado desabe.
Contudo, caso este rompimento venha acompanhado de reformas estruturais como a administrativa, que traria maior autonomia para o governo no gerenciamento das despesas, o estrago pode ser menor.