Mercado reage ao vencimento da MP 1303 e dólar encerra no maior valor em um mês, aos R$ 5,37

10/10/2025 • 3 mins de leitura

Ibovespa também teve queda, diante de preocupações quanto ao vencimento da MP que ampliava arrecadação do governo

O dólar encerrou a quinta-feira em alta de 0,58%, aos R$ 5,37, enquanto a Bolsa encerrou o dia em baixa de 0,31%, aos 141.708 pontos. É o maior patamar para o câmbio desde 11 de setembro passado.

As atenções dos investidores se voltaram à preocupação com a condução dos gastos públicos diante do vencimento, ontem, da MP 1303, que pretendia aumentar a arrecadação do governo para cumprir a meta fiscal de 2026.

Na leitura de Matheus Nascimento, analista da Oby Capital, o vencimento das medidas previstas para aumentar a arrecadação pública, que ajudava o governo a fechar as contas no próximo ano, pesou nos ativos:

— Como o governo não conseguiu passar a MP, o número (do déficit) para 2026 iria para algo próximo de R$ 50 bilhões. Na conta, somado a um ano eleitoral, é bastante preocupante porque influencia a trajetória da divida pública — afirmou ele, lembrando que é comum que governos aumentem os gastos públicos em anos eleitorais.

O dia foi de força do dólar também no exterior, com componentes internacionais para a valorização da moeda americana:

— Tem toda a questão da França, que tem jogado o euro para baixo, com problema no governo Macron, e as eleições do Japão, com postura fiscal menos austera (da nova premiê) — diz Gustavo Rostelato, economista da Armor Capital, sobre a força do dólar lá fora frente ao iene e à moeda europeia. No mesmo momento de encerramento dos negócios no Brasil, às 17h, o DXY, que mede a moeda frente seis divisas fortes, subia 0,6%.

Ibovespa cai

O Ibovespa, principal índice da Bolsa, também foi pressionado por papéis ligados à commodities e de empresas voltadas ao consumo cíclico. Com grande relevância no índice, Vale e Petrobras miraram para baixo, com as ações da mineradora (VALE3) perdendo 0,15% e as preferenciais da petrolífera (PETR4) perdendo 1,44%. O setor petrolífero se desvalorizou em bloco, em linha com as perdas do barril no mercado internacional.

Apesar do dado de inflação de setembro vindo menor que o esperado pelo mercado, a leitura positiva do indicador foi contido apenas à curva de juros, que registrou redução nos prazos ao longo de toda a curva.

Para o analista de Inteligência de Mercado do banco de câmbio StoneX, Leonel Mattos, é perceptível que o governo Lula enfrenta dificuldades na articulação política para aprovar as pautas econômicas:

— O que preocupa os agentes do mercado é a percepção de uma certa resistência, quase teimosia, em adotar os cortes de gastos necessários para equilibrar as contas.

Segundo Leonel, o desempenho do Executivo na aprovação de suas propostas junto ao Legislativo contribui para a percepção de que a oposição, que compõe a maioria do Congresso, tem força significativa para lançar nas eleições do próximo ano um candidato mais “fiscalista”. Por isso, mesmo com a pesquisa Quaest apontando Lula como favorito na maioria das projeções, ainda é cedo para definir um cenário consolidado.

— Temos observado um movimento de recuperação da popularidade do governo, mas o cenário continua bastante competitivo — diz Leonel.

O economista-chefe da corretora Monte Bravo, Luciano Costa, aponta que o governo possui caminhos para lidar com essa questão, como desmembrar itens “menos controversos” da MP e transformar em projetos de lei separados, com tramitação fácil. Mas este não deve ser um trabalho fácil.

— Taxação das BETs, juros sobre capital próprio, CSLL e algumas revogações de isenções sobre ativos são ações que não devem encontrar consenso com a Câmara. O que acabaria comprometendo quase metade dos R$ 20 bilhões previstos.

Segundo Luciano, a necessidade de compensar quase R$ 32 bilhões devem gerar tensão no mercado, dado o desafio de cumprir a meta primária de 2026.

— Eventualmente, caso o governo perceba dificuldade em cumprir a meta, poderia considerar alteração da meta fiscal, embora seja um caminho mais complexo e não muito bem-visto por investidores — pondera.

Reportagem produzida por Paulo Renato Nepomuceno e Roberto Malfacini, para O Globo.