O que pesa mais na bolsa do Brasil: a trajetória da Selic ou o futuro dos juros nos EUA?

15/09/2025 • 3 mins de leitura

Saldo do Dia: IPCA de agosto decepcionou por aqui, mas a economia americana mais fraca sustentou o apetite ao risco. Resta entender por quanto tempo os cenários conseguem se contrabalancear

Selic

Frequentemente a condução da política monetária nos Estados Unidos pavimenta o caminho para a Selic. Mas é raro que as trajetórias dos juros nos dois países sejam percorridas no mesmo compasso.

E esse fino desalinhamento provocou uma estranheza no mercado nesta quarta (10): o Ibovespa subiu, embora o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de agosto tenha trazido frustrações para os investidores.

  • Ibovespa arrancou mais de 1% durante a manhã e foi a os 143 mil pontos na máxima da sessão, porém foi perdendo fôlego durante a tarde e encerrou o dia com alta de 0,52%, nos 142.349 pontos. Nesta semana, acumula queda de 0,2% e, no mês de setembro, tem alta de 0,66%. Do começo do ano até aqui, o índice valorizou 18,34%.

O mercado brasileiro teve a primeira deflação deste ano, queda de 0,11%, mas o indicador de agosto ainda veio acima do consenso do mercado (-0,16%) e o IPCA cumulado em 12 meses ainda segue bem acima do teto da meta do Banco Central (BC), de 4,5% ao ano.

Mais do que isso, em termos qualitativos, a leitura decepcionou economistas.

“A dinâmica dos núcleos da inflação tem indicado uma trajetória de desinflação gradual, reforçando a necessidade da manutenção da política monetária em patamar restritivo, mesmo porque a desinflação de serviços requer cautela na condução da política monetária”, diz Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo.

A casa entende que, até o início de 2026, a inflação projetada pelo BC no horizonte relevante vai estar na meta, o que deve levar a autoridade monetária a promover o início do ciclo de cortes de juros a partir de janeiro de 2026, levando a taxa Selic para 11% ao final do ciclo.

“Apesar da desaceleração no índice [IPCA] cheio, os núcleos de inflação [que excluem preços mais voláteis, como energia e alimentos], acompanhados de perto pelo Banco Central, voltaram a acelerar. Destaque para bens industriais e serviços intensivos em trabalho, que subiram no trimestre móvel. A principal surpresa veio do preço de automóveis novos, que caiu menos que o esperado mesmo com incentivos do IPI Verde”, acrescenta Thomás Gibertoni, sócio e gestor de portfólio da Portofino Multi Family Office.

Os números poderiam sugerir que qualquer movimento de antecipação dos início do ciclo de alívios na Selic seria precipitado da parte do BC. Mas os cenários daqui e de fora se contrabalancearam, freando apostas em uma trajetória mais acidentada para a taxa básica de juros.

  • A taxa de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 saiu de 13,96% para 14% ao ano. Prêmios em contratos de curto prazo estão mais ligados às expectativas dos investidores para a Selic.
  • No médio prazo, os retornos da taxa para janeiro de 2029 seguiram em 13,19% ao ano.
  • Já para janeiro de 2036, a taxa subiu de 13,64% para 13,61% ao ano. Vencimentos com prazos mais longos refletem uma maior preocupação com calote do governo.

Acontece que o índice de preços ao produtor (PPI) dos EUA caiu 0,1% em agosto, de acordo com dados divulgados hoje, pegando de surpresa os agentes de Wall Street, que projetavam avanço de 0,3%.

Os sinais de arrefecimento de inflação na economia americana se somam às últimas divulgações sobre o mercado de trabalho, que mostraram no último mês – pela primeira vez desde 2021 – que há mais pessoas desempregadas do que postos de trabalhos em aberto nos EUA.

O cenário reforça o horizonte dos cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), o que pressionou os juros pagos pelos títulos públicos americanos (Treasuries), tornando a renda fixa menos atrativa por lá.

  • dólar comercial cedeu 0,53% contra o real, a R$ 5,41. Nesta semana, tem queda de 0,11% e, no mês, de 0,28%. Do início do ano até aqui, a moeda dos EUA ficou 12,5% mais barata para o brasileiro.

Neste recorte, uma possível aproximação de uma recessão nos EUA vem minguando o apetite do investidor estrangeiro, principalmente nas bolsas lá fora – cujos índices só foram sustentados hoje pela arrancada da gigante Oracle.

Os dados de mercado de trabalho sugerem há mais de um mês que a desaceleração na economia americana pode ser mais brusca, o que aciona alertas em Wall Street para o impacto de uma eventual crise em vendas e nos resultados das companhias.

A política tarifária de Trump adiciona camadas de incertezas no mercado financeiro, por carregarem riscos elevados de provocar repique inflacionário, mesmo com a atividade em contração. Nesta hipótese, os EUA entrariam num quadro de estagflação, quando o ritmo de alta dos preços acelera mesmo enquanto a economia esfria e sem que haja maior demanda.

Embora as ações de empresas de tecnologia continuem atraindo interesse de grandes gestores e investidores de modo geral, o ambiente para investimentos em bolsas já não é mais o mesmo nos EUA entre as ofensivas de Donald Trump contra o Fed, a escalada do risco fiscal e o enfraquecimento do dólar americano.

Confira na íntegra matéria publicada no Valor Investe.

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