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21/02/2024 • 4 mins de leitura
Cenário econômico e política fiscal no Suno Notícias
Cenário econômico: com a aprovação pelo Congresso, a execução do…
Existe uma racionalidade na excentricidade de Donald Trump, ao menos no que diz respeito ao papel que ele enxerga para o dólar no seu projeto de poder. A maneira como faz e comunica pode soar insana, mas os fins não estão muito distantes daquilo que tentaram outros presidentes americanos, incluindo arquirrivais, como Barack Obama.
Trump parece apostar em um dólar mais fraco como arma para reduzir o déficit externo dos Estados Unidos, combinando tarifas de importação e estímulo às exportações – uma estratégia usual, mas que agora carrega tons mais conflituosos e um discurso que remonta ao velho protecionismo americano dos séculos 18 e 19, que via os EUA como a terra escolhida e que deveria ser protegida (e afastada) dos demais povos menos aptos deste mundo.
No caso de Trump, há um agravante: ele tem aumentado gastos. Segundo o Trading Economics, site global de estatísticas econômicas, os EUA registraram um déficit de US$ 450,17 bilhões no primeiro trimestre de 2025.
O estrategista-chefe da Monte Bravo, Alexandre Mathias, avalia que a queda do dólar não é um objetivo em si para o governo Trump, mas pode ser um resultado aguardado. Contudo, há um limite para isso e, na visão do estrategista, a desvalorização global do dólar pode estar perto do fim.
Olhando para o DXY, índice global do dólar, a percepção é a de que, há algumas semanas, a moeda conseguiu segurar a queda contra as principais divisas globais (sem contar o real), oscilando entre 97 e 98 pontos. E, mesmo que recue até cerca de 90 pontos, o patamar ainda seria aceitável para o governo Trump.
Desde fevereiro, acentuou-se no mercado a tese da perda de valor do dólar em escala global. E isso ainda pode ter um caminho longo pela frente, apesar da estabilização recente. Na próxima semana, com a redução dos juros nos EUA, cairá o diferencial de juros entre os EUA e a Europa.
O estrategista e especialista em macroeconomia da Genial, Roberto Motta, foi um dos que levantou a bandeira da tese do dólar fraco quando o discurso de Trump de desorganizar as relações comerciais ganhou força.
Motta diz que a tendência de enfraquecimento da moeda ainda é predominante, dado que os investidores já não enxergam os EUA com a mesma segurança de antes – seja pelas incertezas políticas, seja pelo aumento do endividamento do país. Assim, a percepção é a de que o dólar ainda não bateu no fundo. E, na comparação com o real, pode haver um alçapão.
Do lado de cá do hemisfério, o real ganha força com o diferencial de juros favorável, atraindo capital estrangeiro e levando a moeda a se valorizar além de outras divisas emergentes.
Nesta sexta, o dólar fechou cotado a R$ 5,35. No primeiro dia do ano, estava em R$ 6,30 – queda de mais de 15% em nove meses. E há espaço para mais.
O mundo já coloca na conta a redução de juros nos EUA na próxima reunião do Fed, a ser anunciada no dia 17. Enquanto isso, no Brasil, o consenso é de manutenção da taxa em 15% pelo menos até o começo do ano que vem.
Isso significa que os títulos brasileiros vão aumentar sua rentabilidade contra os americanos, mantendo o mesmo risco. Com mais dinheiro migrando para o Brasil, o real deve se fortalecer.
Alguns agentes preveem um limite de R$ 5,30 para a queda do dólar. Perfeito diz que, se a moeda cair além disso, pode haver aceleração da desvalorização para a casa de R$ 5,10.
No Boletim Focus, a realidade ainda é outra. A média do mercado mantém projeção distante do nível atual, em R$ 5,55 para o fim de 2025. Deve haver nova revisão na segunda-feira, mas ainda conservadora.
Perfeito avalia que uma mudança nas projeções para valores mais próximos do atual poderia causar um efeito dominó, derrubando também as perspectivas para inflação e, por consequência, da própria Selic.
Enquanto o Focus não indica isso, o Banco Central mantém uma postura conservadora. Tanto que, há algumas semanas, o presidente Gabriel Galípolo disse que os juros no país estão longe de cair. Para além dos temores com a inflação, há também a possibilidade de ganho na virada da política monetária americana, com migração de capital para emergentes. Nesse cenário, o Brasil, com sua estabilidade política, crescimento econômico e juros elevados, é visto como uma oportunidade singular no mundo.
Matéria produzida pela Times Brasil.