Bolsa de valores brasileira não deve ser impactada com tarifas de Trump, dizem especialistas

18/07/2025 • 3 mins de leitura
Bolsa de valores brasileira não deve ser impactada com tarifas de Trump, dizem especialistas

Ritmo de crescimento, entretanto, será mais lento

Apesar da guerra tarifária e da instabilidade econômica proporcionada pelo presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, especialistas ouvidos pela reportagem acreditam que a bolsa de valores brasileira continuará a registrar um bom desempenho no segundo semestre do ano, porém em ritmo mais lento que o primeiro. Em junho deste ano, o Ibovespa subiu 1,3% e no acumulado de janeiro a junho, 15,4%, atingindo o melhor primeiro semestre desde 2016.

De acordo com o estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz, a tarifa de 50% ou as altas taxas comerciais não foram mantidas em nenhum país até agora. “Se a taxa ficar, vai ter muita reflexão negativa no Brasil, como já está sendo vista para o produtor de peixes, de manga, mas não parece que é algo que vai se manter”, avalia.

Assim sendo, ele pontua que o mercado ainda espera a bolsa com uma valorização. “Hoje está em 130 mil pontos. O mercado está imaginando que vá subir para 140 mil até o final do ano e para mais de 150 mil no ano que vem”, afirma Cruz.

O head de renda variável da Veedha Investimentos, Rodrigo Moliterno, lembra que a tarifa só valerá a partir de 1º de agosto e que ainda está em negociação. Porém, analisando como efetiva a tarifa de 50%, ele acredita que o maior impacto não seria nas bolsas, mas sim nas empresas exportadoras de commodities , em grande parte, e nas empresas de produtos acabados. “Nessas últimas o impacto seria grande, mas das que estão listadas em bolsas negociadas são poucas. Então, vale acompanhar o desenrolar das questões tarifárias, se vai haver ou não reciprocidade”, comenta.

O analista de ativos da Monte Bravo, Bruno Benassi, pontua que a Monte Bravo também não mudou nenhuma previsão de cenário para as bolsas e continua prevendo o índice projetado de 145 mil até o fim do ano. “Não sabemos se essa tarifa será realmente implementada, as empresas de commodities ainda não precificaram. Então, pode impactar alguns setores, mas não fizemos nenhuma mudança na projeção”, diz.

O estrategista de ações da Nomos, Max Bohm, também acredita que a bolsa brasileira continuará atrativa. Ele explica que a bolsa brasileira está negociando a múltiplos bem interessantes e atrativos. “Estamos tendo um aumento de oito vezes, preço sobre lucro. Isso é bem abaixo da média histórica dos últimos dez anos, que é 10,5. Então, num cenário de taxa Selic recuando em breve, com juros nos Estados Unidos também caindo, acredito que isso vai atrair fluxo para a bolsa e levar ela a subir de 20% a 30% no horizonte de 12 meses”, analisa.

Fluxo de investimentos ainda é incerto

A agenda conturbada de regulação tarifária dos EUA coloca a previsão de uma volta de investimentos para os Estados Unidos no segundo semestre em xeque. Alguns especialistas entrevistados acreditam que, ainda que haja uma pequena desaceleração da economia norte-americana, ela não será muito significativa. “Você tem um investimento grande ainda indo para os EUA e isso não deve mudar”, avalia o estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz.

Entretanto, o estrategista de ações da Nomos, Max Bohm acredita que o fluxo de investimentos continuará saindo do país norte-americano e migrando para países emergentes. “Com os juros caindo em breve, provavelmente em setembro, os investidores internacionais vão buscar investimentos de maior retorno. Então, acho que o dinheiro vai acabar saindo da renda fixa americana e também da renda variável. Isso porque elas estão com múltiplos mais esticados e os investidores buscam ativos mais baratos. E o Brasil entra nesse grupo com a bolsa negociando oito vezes contra a bolsa americana negociando a 22 vezes”, detalha.

Moliterno da Veehda Investimentos, questiona o modelo de negociação comercial adotado pelo presidente Trump, acreditando não ser eficaz. “Isso só faz com que o investidor global volte a ponderar se os Estados Unidos são o investimento mais seguro ou não. O que já vem se mostrando que não. O investidor está cada vez mais apto a diversificar seus investimentos e a tendência é variar os mercados”, aponta.

Nessa diversificação, ele ressalta que o Brasil tem ganhado espaço por ser um mercado grande, que já está relativamente descontado e pelos investidores entenderem que o ciclo de aperto monetário está chegando ao fim. “Então, isso faz com que o Brasil continue atraindo investidores estrangeiros. Tivemos um fluxo bastante positivo nesse primeiro semestre e acredito que esse fluxo deva continuar assim. Até o final do ano o Ibovespa deverá estar próximo da casa dos 150 mil pontos”, acrescenta.

Benassi lembra ainda que, apesar disso, o fluxo para o Brasil também é incerto. “No começo (do tarifaço), a tese era de que o Brasil e a América Latina seriam uns dos grandes ganhadores ou que fossem ao menos os menos atingidos pelas tarifas. Porém, essa narrativa pode mudar. Estamos avaliando os fluxos, mas ainda não alteramos as projeções”, destaca.

Matéria publicada no Diário do Comércio (MG).