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21/02/2024 • 4 mins de leitura
Cenário econômico e política fiscal no Suno Notícias
Cenário econômico: com a aprovação pelo Congresso, a execução do…
Apesar da Selic a 15% e das incertezas do mercado econômico brasileiro, o Ibovespa, índice de referência do mercado de ações brasileiro, fechou junho com cerca de 140 mil pontos, marcando alta de 1,33% no mês e 15,44% no primeiro semestre do ano. É o melhor desempenho para um primeiro semestre desde 2016, quando havia alcançado 18,86%, conforme informa a B3. Setores como educação, construção civil e instituições financeiras foram os que melhor desempenharam.
Especialistas atribuem a alta do mercado acionário brasileiro às expectativas de fim do ciclo de alta de juros no País, à forte entrada de capital estrangeiro e a uma trégua temporária nas tensões comerciais entre China e Estados Unidos. De janeiro a junho, o investimento estrangeiro totalizou R$ 25 bilhões na bolsa brasileira, indicando uma mudança global de destino de investimentos, em meio às incertezas na economia americana. Entretanto, no segundo semestre, os investidores podem rotacionar o foco para o país norte-americano.
De acordo com o analista de renda variável da Monte Bravo, Bruno Benassi, nesse cenário, os setores que melhor desempenharam foram o da educação, o da construção civil – sobretudo os de baixa renda, muito sensíveis aos juros – e o de bancos e instituições financeiras, que continuam com bom desempenho.
Sobre o bom desempenho do setor de educação, o pró-reitor do Ibmec BH, Eduardo Coutinho, explica que as grandes companhias do setor educacional apresentaram valorização significativa, estando entre quatro das dez com maior valorização no semestre. “Acredito que muito puxado pelo processo de recuperação em relação aos efeitos da pandemia, que fizeram o setor sofrer muito”, avalia.
Já o estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz, explica que o setor ficou muito “abandonado” pelos investidores após a pandemia, quando foi muito penalizado pela redução do ticket médio e pela popularização dos cursos à distância. “Isso fez com que eles tivessem sido totalmente abandonados pelos investidores ao longo dos últimos anos e agora voltou a ser um dos mais acompanhados, com algumas mudanças também puxadas pela regulamentação do governo, limitando a quantidade de aulas que podem ser feitas de forma virtual em alguns cursos”, avaliou.
Por outro lado, os setores que desempenharam mal foram os do petróleo e os que envolvem commodities de um modo geral. Cruz explica que as cotações internacionais caíram quase 10%, e em alguns momentos até mais, no caso do petróleo. “Teve momentos de recuperação, é verdade, principalmente com a questão do Oriente Médio, com a guerra se acentuando por lá, mas a gente vê um ano ainda de uma oferta cada vez mais abundante, enquanto a demanda vem enfraquecendo”, avalia.
Cruz também destaca o desempenho negativo das empresas de aço e alumínio que exportam para os Estados Unidos e que ganharam uma tarifa extra, no primeiro semestre, com o tarifaço do presidente Donald Trump. “O Brasil sempre oscila entre a segunda e terceira colocação entre os que mais exportam aço e alumínio para os Estados Unidos e, diante disso, acabou sendo atingido em cheio.”
O analista de renda variável da Monte Bravo, Bruno Benassi, pontua o setor de commodities como um dos que não desempenharam bem neste semestre. “Elas tiveram desempenho ruim. Mineração e siderurgia muito afetadas pela China e pela guerra comercial”, afirma.
Para o segundo semestre, os especialistas alegam que é difícil prever o cenário, que dependerá da evolução da inflação, do comportamento fiscal do governo e da manutenção do fluxo de capital estrangeiro. Porém, esperam que os setores que performaram bem continuem nessa toada positiva.
“Estamos ainda num momento de muita incerteza em relação à situação geral do País, do ponto de vista fiscal e, sobretudo, sem saber quais serão os desdobramentos de natureza tributária. Além de tudo que estamos passando em relação às contas públicas”, diz o pró-reitor do Ibmec, Eduardo Coutinho.
No entanto, Gustavo Cruz acredita que o segundo semestre pode ser bem diferente do primeiro, com uma possível volta de ativos para os Estados Unidos. “Eu entendo que o investidor tem uma agenda mais favorável para lá (EUA), já que está prevista a desregulação do setor financeiro e de alguns setores como óleo e gás.”
Porém, ele ressalta a questão da reforma tributária, que pode, por um lado, pesar muito na questão fiscal, mas, por outro, ajudar bastante na atratividade da bolsa de algumas empresas que terão perspectiva de lucro maior nos próximos anos.
Matéria publicada no Diário do Comércio.