Ibovespa sobe 1% impulsionado por Vale e IPCA-15

30/06/2025 • 3 mins de leitura
Ibovespa sobe 1% impulsionado por Vale e IPCA-15 melhor do que esperado

O Ibovespa tem alta firme nesta quinta-feira, refletindo a leitura mais benigna do IPCA-15 de junho, que subiu 0,26%, abaixo das expectativas do mercado. A composição do indicador mostrou um quadro mais favorável da inflação brasileira, o que favoreceu a queda dos juros futuros e, por consequência, as ações ligadas à economia doméstica. Já a alta do minério de ferro impulsiona os papéis da Vale, que contribuem para os ganhos do índice.

Os investidores ainda monitoram os desdobramentos da votação expressiva no Congresso que derrubou o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), enquanto as incertezas com o cenário fiscal permanecem.

Por volta de 13h20, o Ibovespa subia 1,04%, aos 137.173 pontos, com a mínima intradiária de 135.756 pontos e máxima de 137.199 pontos. O volume projetado para o índice era de apenas R$ 15,8 bilhões. Em Nova York, o S&P 500 ganhava 0,67%, o Nasdaq tinha alta de 0,74% e o Dow Jones subia 0,77%.

Para o economista-chefe do BV, Roberto Padovani, a melhora registrada pelos ativos domésticos na sessão hoje ocorre por dois motivos: segundo ele, a informação de que o governo sofreria uma derrota no Congresso com a derrubada do aumento do IOF já era pública ontem e os mercados já se ajustaram na sessão anterior, além do que o ambiente global é mais favorável ao risco no pregão desta quinta-feira. “Hoje, não teve informação adicional. Só se confirmou o que já era esperado ontem com o IOF. Os mercados também são influenciados por um cenário global mais tranquilo.”

A divulgação de um IPCA-15 melhor do que o esperado também ajudou o Ibovespa. Para o economista, o dado de hoje reforçou uma “sequência de surpresas positivas” com números de inflação. “Tem uma inflexão importante acontecendo na inflação e estamos no meio desse processo. Olhando o IPCA em 12 meses, talvez a gente opere num patamar alto até julho até julho e agosto e comece a ceder depois”, diz, com a expectativa de que a inflação de serviços pare de aumentar e que os preços de matérias-primas caiam.

Assim, as ações mais sensíveis aos juros lideram os ganhos na sessão: Azzas ON ganhava 5,63% e MRV ON tinha alta de 4,84%. Lojas Renner ON subia 4,11%, após analistas do Bradesco BBI subirem o preço-alvo dos papéis de R$ 16 para R$ 22, mas com indicação neutra.

Em meio à valorização do minério de ferro em Dalian, na China, os papéis ordinários da Vale avançavam 2,63%, tendo atingido alta superior a 3% mais cedo. Apesar do bom desempenho de hoje, o analista de renda variável da Monte Bravo, Bruno Benassi, afirma que há dúvidas relevantes sobre a demanda da commodity, especialmente diante do momento desafiador do setor imobiliário chinês.

Embora acredite que a Vale é bastante descontada em relação aos pares, a curto prazo não enxerga tanto espaço para o crescimento da ação. A longo prazo, porém, a empresa pode se destacar.

“Em algum momento do tempo, o setor deve migrar para uma siderurgia com uma pegada de carbono menor. Acho que a Vale tem o minério de melhor qualidade e tem algumas outras iniciativas, como os briquetes e pellets, que podem ajudar a empresa a aumentar o prêmio em relação ao minério de qualidade um pouco mais baixa, principalmente das [mineradoras] australianas”, avalia.

Diante da retomada dos receios de investidores com a sustentabilidade das contas públicas, com a derrubada do aumento do IOF, Padovani não descarta a chance de o Brasil registrar um estresse forte nos mercados parecido com o visto no fim do ano passado. “A situação fiscal torna os mercados locais expostos a choques globais. Caso haja um ambiente global mais favorável, o fiscal vai ficar em segundo plano. Mas o Brasil está mais vulnerável hoje do que antes por causa das contas públicas”, avalia.

“Achamos que o processo de busca por risco em emergentes pode ser revisto. Não vemos o fluxo de estrangeiros se mantendo, quando for confirmada uma alta maior do que a esperada da inflação americana, o que vai exigir juros mais altos por mais tempo nos Estados Unidos”, completa o economista. O profissional está com uma visão mais conservadora do que boa parcela dos agentes financeiros que precificam três cortes de juros nos EUA até o fim do ano, segundo plataforma do CME Group.

Benassi, da Monte Bravo, também tem dúvidas sobre a continuidade de saída de recursos dos ativos americanos. Ele observa que, caso o impacto das tarifas de Donald Trump não cause uma desaceleração tão forte na economia dos EUA, e a redução dos juros americanos seja realizada, o investidor pode não ter motivos para diversificar o portfólio em direção a outras geografias.

Matéria publicada no Valor Econômico.