Sala de Imprensa
16/02/2024 • 3 mins de leitura
Títulos Isentos: Eduardo Levy na Isto É Dinheiro
Resumo do artigo Para o economista Eduardo Levy, diretor-executivo da…
Resumo do artigo
Alexandre Mathias vê o Brasil em “ambiente inflacionário”, ainda que o ano tenha iniciado com o dólar baixando a R$ 5,70 depois de ultrapassar R$ 6,25. Para o economista, o estopim é de 2024, mas o impacto na economia real – que inclui atividade econômica e emprego – será sentido neste ano. Mathias esteve em Porto Alegre para participar de palestra para convidados, quando conversou com a coluna.
E preciso lembrar que o câmbio fechou 2023 perto de R$ 4, 80. No primeiro semestre do ano passado, oscilou entre R$4, 80 e R$ 5, 20, até o momento em que o governo mudou as metas do arcabouço fiscal (abril de 2024). Quando há âncora fiscal crível e boa, o efeito da turbulência global chega reduzido. Quando é frágil, o efeito da turbulência global chega amplificado.
No final do ano, o pacote fiscal veio com uma medida de corte de impostos e acentuou a perda de credibilidade. Ainda tivemos um final de ano que é sazonalmente ruim para o câmbio e o início do governo Trump, que assustou todo mundo com as tarifas.
Houve saída de capitais no mundo inteiro, e o Brasil estava mais frágil. Por outro lado, o Banco Central inundou o mercado de dólares. E Trump agora parece mais pragmático e menos radical. O dólar está voltando globalmente. No Brasil, pegamos a maré, com o mercado de câmbio abastecido, em um período sem notícias fiscais, o que fez câmbio voltar a R$ 5, 70.
A gente deve voltar a ter períodos de pressão por causa do risco-país. O presidente (Luiz Inácio Lula da Silva) já disse que não deve haver ajuste fiscal adicional, e o país vai ter um salto na dívida. O presidente Lula assumiu com 71,7% do PIB de dívida e deve entregar com 87%, uma trajetória explosiva. E o governo não está dando sinais de ajuste. Nesse ambiente, em algum momento o câmbio vai passar de R$ 6 de novo. A nossa projeção para o final do ano é um câmbio de R$ 6,50.
Sempre hesitamos em acreditar que Trump faria política muito inflacionária. Mas tudo que diz respeito a Trump deve ser deixado em aberto, é um personagem errático. Em tese, não é do interesse do presidente dos EUA fazer política que tenha custo de popularidade elevado, como uma política inflacionária.
No segundo semestre do ano passado, o governo cometeu vários erros de política econômica e de comunicação. A entrevista e a chegada do Sidônio (Palmeira, ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência da República) contribuíram para uma postura que ajuda a coordenar expectativas. Agora, o que já é uma estratégia de eleição é a isenção do Imposto de Renda até R$ 5 mil.
Terá custo importante, e há dúvida sobre medidas de compensação. O ruim do cenário fiscal é que há desafios que podem ser neutros ou negativos, mas não positivos. Se tudo ocorrer como esperado, é mais do mesmo. Se algo sair do roteiro, terá piora, o que achamos que vai acontecer.
Precisa subir o juro para perto de 15%. Se é 14, 75%, 15% ou 15, 25%, é quase uma preferência subjetiva. Fato concreto é que o ambiente é todo inflacionário, dada a desancoragem das expectativas, a projeção de câmbio, a força da economia e as medidas fiscais. Para levar a inflação à meta no horizonte que o BC deveria atuar, a Selic teria de subir mais.
Está com toda a cara de que vai fazer isso em horizonte mais longo. Não vou dizer que terá custo de credibilidade, mas será uma âncora monetária menos potente, e a inflação vai ficar acimada meta por mais tempo. À nossa projeção é de 7% de IPCA neste ano e não chega à meta nem em 2026, fica em 5, 20%.
Estamos esperando desaceleração de 1, 6% em 2025. Na prática, significa crescimento quase zero trimestre a trimestre. Do ponto de vista de inflação, estamos com um hiato muito aberto (crescimento acima do potencial, que estimula a inflação), o crescimento desacelera e vem para perto do potencial. Ainda não está desinflacionando, só não vai acrescentar mais inflação. A desaceleração é insuficiente para levar a inflação para a meta.
€ Recessão ou desaceleração? A economia não vai crescer de maneira sustentável, vai crescer de forma ruim. E uma característica do mix de política econômica que estamos vivendo. Tem muito estímulo para consumo, e a oferta não cresce o suficiente. Para equilibrar, teria de reduzir o fiscal, abrir espaço para investimento privado, permitir queda de juro. Não é o que está sendo construído. Vamos ter dois anos de uma economia que vai viver as consequências de desequilíbrios do ponto de vista fiscal.
Não adotamos atuação precaucional, que seria fazer um ajuste fiscal mais potente para proteger a economia. Estamos expostos. Mas, embora Trump seja um personagem errático, o que realmente preocuparia do ponto de vista da economia brasileira seria um cenário em que a inflação subisse lá e obrigasse uma alta de juro. Não é o cenário que temos. O cenário global é marginalmente benigno, um pouco melhor do que está agora.
Em 2024, houve flexibilização das metas do arcabouço fiscal, aprovada meses antes. Ninguém poderia imaginar. Com a mudança, houve alteração importante nos preços dos ativos, que reagem com base nas expectativas muito rapidamente, em dois, três meses.
A economia real, por outro lado, tem grande inércia. Crescemos muito em 2023 e em 2024 por causa do arcabouço, mas o mercado financeiro teve de processar uma mudança radical da política fiscal que implicou na elevação derrisco.
Para 2025, o mercado já processou, os ativos financeiros já incorporaram o nível de risco mais alto. Agora, a economia real, que reage mais lentamente, vai sofrer os danos das escolhas fiscais malfeitas. Vamos ter desaceleração importante, inflação alta, desemprego maior e consequentemente queda da popularidade. E não é questão de comunicação, mas de escolhas feitas em nível de risco elevado. ==
Entrevista publicada no jornal Zero Hora.