
O dólar fechou ontem abaixo dos R$6 pela primeira vez desde 27 de novembro, cotado a R$ 5, 94, com queda de 1, 4% no dia. Segundo analistas, a percepção de que o presidente dos EUA, Donald Trump, deve adotar o prometido tarifaço de modo mais direcionado tirou a pressão sobre a moeda americana.
De acordo com especialistas, a percepção agora é de que Trump deverá usar as ameaças de elevação das tarifas como forma de pressão sobre governos para atingir outros objetivos não estritamente comerciais.
Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos, disse que as notícias após a posse do líder americano mostram uma abordagem menos bélica e mais estratégica da Casa Branca.
“Há uma percepção que ficou depois da posse, dos discursos, de que as tarifas vão ser usadas muito mais como ferramenta de negociação do que simplesmente em uma guerra comercial aberta”, disse. “A sensação de que o aumento de tarifas está com esse papel, defendido pela parte mais moderada da equipe econômica do Trump, está deixando o mercado com menos risco. ”
Desde . segunda-feira, Trump tem dado declarações sobre a taxação de mercadorias importadas – ele citou nominalmente México e Canadá, na segunda-feira, e a China, na terça-feira à noite. Sobre os vizinhos, o republicano prometeu alíquotas de 25%. Para a China, de 10%.
“Estamos falando de uma tarifa de 10% sobre a China com base no fato de que eles estão enviando fentanil para o México e o Canadá”, afirmou o presidente, dando entender que os chineses facilitam o tráfico de opioides para os EUA.
Matheus Massote, sócio da One Investimentos, diz que a percepção de que a política tarifária de Trump não será tão dura é relevante também porque afeta diretamente a expectativa em torno do resultado da balança comercial.
Segundo ele, depois da piora na taxa de câmbio no final do ano passado em função de receio sobre as contas públicas do governo e também de fatores sazonais, como as remessas de capital de empresas ao exterior, a diminuição da percepção de risco colabora para que os investidores prestem mais atenção aos fundamentos da economia – o que, no momento, favorece o real depois da forte depreciação observada em dezembro.
“A inflação não explodiu. Com os juros altos, a preocupação é com recessão no segundo semestre, não com a escalada da inflação”, afirmou.
RECUPERAÇÃO DIFÍCIL. O caminho para um real mais valorizado, porém, ainda pode enfrentar obstáculos. Segundo Glaucy Lima, gestora de câmbio da Fair Corretora, o fluxo de dólares para fora do Brasil ainda é relativamente grande. “Há muita gente muito insegura com questões políticas. Entre os brasileiros ainda está saindo mais dinheiro do que entrando. ”
O fluxo cambial do Brasil foi negativo em US$3, 804 bilhões de 1.º a 17 de janeiro, segundo dados preliminares divulgados ontem pelo Banco Central.
Reportagem produzida pelo Estadão.