Dólar deve manter oscilações até o fim deste ano

19/11/2025 • 3 mins de leitura

Apesar disso, moeda norte-americana já acumula desvalorização de 14% em 2025

O dólar atingiu a casa dos R$ 5,33 e chegou ao maior valor dos últimos dez dias. O cenário de altas e baixas não é novidade para um câmbio que tem registrado fortes oscilações durante o ano, refletindo a pressão dos fatores externos e as incertezas domésticas, conforme especialistas ouvidos pelo Diário do Comércio.

Variações que, na visão do economista e professor dos cursos de Gestão e Relações Internacionais do UniBH, Fernando Sette Junior, são manifestações clássicas da flutuação do câmbio em resposta a choques de mercado e mudanças de expectativas.

Em setembro, quando o dólar atingiu o menor nível desde 2024 e acumulou perda de 14% no ano, a queda foi, de acordo com o professor, em função do elevado diferencial entre os juros do Brasil e dos Estados Unidos, o chamado carry trade, que atraiu o mercado especulativo e trouxe um certo otimismo para o mercado. No entanto, conforme explica Sette Junior, a dinâmica mudou. “A valorização do dólar é uma resposta imediata a um aumento significativo do prêmio de risco”, avalia.

Segundo ele, o que está sendo observado não é apenas uma flutuação sazonal, mas sim uma resposta do mercado a novos inputs de informação, com investidores ajustando suas posições e buscando a segurança da moeda americana. “A volatilidade aumentou, e a direção predominante aponta para um real mais fraco no momento atual”, afirma.

Previsão defendida também pelo economista-chefe da Monte Bravo, Luciano Costa. “Apesar de o real ter apresentado uma valorização meses atrás, na nossa visão, a tendência é de que o câmbio se deprecie daqui até o final do ano”, avalia.

Costa: saída de capital enfraquece a moeda brasileira | Foto: Divulgação Monte Bravo

Costa explica que, nos últimos meses do ano, a tendência é de maiores saídas de capitais. “Há aumento de pagamentos de serviços, como os fretes, aumento das remessas de lucros e dividendos, sobretudo as que possuem multinacionais remetendo para as matrizes”, afirma.

Nesse sentido, a economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli, também ressalta a pressão da taxa de câmbio proporcionada pelas remessas das empresas. “Até o final do ano, é comum essa pressão e deve haver uma continuidade desse movimento”, diz.

O professor do UniBH pondera ainda que notícias sobre a deterioração do quadro fiscal e, mais recentemente, a crise de confiança gerada pela situação do Banco Master atuam como catalisadores para a aversão ao risco. “Investidores migram de ativos brasileiros para ativos dolarizados, gerando pressão de compra sobre a moeda americana e, consequentemente, sua valorização.”

Dessa forma, a expectativa dos especialistas é de um cenário de volatilidade persistente, com o dólar girando em torno de R$ 5,50 e R$ 5,60. “O consenso do mercado, refletido no Boletim Focus, aponta para um dólar encerrando o ano em torno de R$ 5,45, porém é uma média”, diz Sette Junior.

Para o economista, o cenário depende crucialmente de dois eixos: a credibilidade da política fiscal brasileira e a direção da política monetária dos Estados Unidos. “Se o Brasil não conseguir sinalizar responsabilidade fiscal, o dólar tem espaço para subir além dessas projeções. Em economia, o ‘esperado’ é a incerteza, e o mercado precificará o risco até o último dia útil de dezembro”, finaliza.

Cautela é indicada para pessoas físicas

Quando questionado se o momento é propício para compra da moeda americana por parte de pessoas físicas, o planejador financeiro e sócio da iHUB Investimentos, Lucas Sharau, diz que a resposta depende menos do preço isolado e mais do objetivo do investidor. “Em vez de esperar o ‘dólar perfeito’, a pessoa física precisa definir a exposição, entender o cenário e agir com consistência”, explica.

Com relação a viagens ao exterior, o especialista sugere compras fracionadas ao longo das próximas semanas, combinando moeda em espécie, conta internacional ou cartão de débito em moeda forte. Ele também sugere compras em camadas, começando com aquisições menores já neste ano e acelerando ou desacelerando conforme a evolução do câmbio.

“Historicamente, o dólar oscila em bandas largas. É muito difícil acertar o ponto mínimo, portanto, é mais aconselhável ir comprando aos poucos para não comprometer o orçamento de última hora. A compra fracionada é fundamental para acumular os recursos necessários para usufruir durante um período de férias fora do País, por exemplo”, finaliza.

Reportagem produzida por Juliana Sodré, para o Diário do Comércio.