Dólar fecha no menor valor em dois meses - Monte Bravo

Dólar fecha no menor valor em dois meses

23/01/2025 às 18:17

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Quinta

Jan

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Dólar fecha no menor valor em dois meses

O dólar até ganhou um pouco de fôlego durante a tarde contra o real, seguindo o sinal externo, mas ainda assim manteve a tendência de queda que o levou ao menor fechamento em dois meses. Aos R$ 5,9465 (-1,40%) no fechamento à vista, a moeda americana encerrou no mais baixo nível desde 27 de novembro (R$ 5,9135). Por trás desse movimento, a aposta que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vai adotar tarifas de um modo “light”, direcionado e estratégico, após mencionar uma alíquota de 10% contra a China em 1º de fevereiro.

Na campanha, vale lembrar, ele falou até em 60% de taxa contra produtos chineses. Há também uma correção dos exageros recentes, o que foi visto também na curva de juros local e, no caso da Bolsa, com mais vigor na semana passada. Hoje, o índice acionário caiu 0,30%, aos 122.971,77 pontos, com queda forte de Vale (-2,52%) e baixas de Petrobras (ON -1,01% e PN -0,56%) como principais drivers. Lá fora, o ímpeto de ações de tecnologia com anúncios do novo governo americano e balanços positivos fez com que o S&P 500 tocasse o recorde histórico durante a sessão, em que subiu 0,61%.

Câmbio

A avaliação dos investidores de que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, será mais comedido e estratégico na adoção de tarifas de importação – usando-as como ferramentas para atingir os objetivos do governo, e não como armas numa guerra comercial – diminuiu a percepção sobre os riscos à economia global e beneficiou principalmente as moedas de países emergentes exportadores de commodities. O dólar, porém, caiu mais na comparação com o real que em relação aos pares da moeda brasileira, fechando abaixo dos R$ 6,00 pela primeira vez em mais de um mês e no menor nível desde o final de novembro.

O dólar à vista caiu 1,40% no mercado à vista, para R$ 5,9465 – menor nível de fechamento desde 27 de novembro, quando a moeda encerrou o pregão a R$ 5,9135. Além disso, foi a maior queda do dólar no fechamento em termos porcentuais desde 19 de dezembro, quando a moeda caiu 2,27%, a R$ 6,1237.

No mercado futuro, o contrato da moeda para fevereiro tinha queda de 1,42% por volta das 17h20, a R$ 5,9510.

Na mínima da sessão, o dólar à vista chegou a R$ 5,9165 – menor taxa intradia desde 12 de dezembro. Já o dólar futuro tocou R$ 5,9255.

Ontem à noite, Trump indicou que pretende taxar em 10% as importações de produtos chineses. O número surpreendeu, dado que durante a campanha ele chegou a prometer taxação de até 60%. Além disso, uma reportagem do Wall Street Journal apontou que o objetivo de Trump ao taxar produtos do México e Canadá era antecipar de 2026 para 2025 a negociação do acordo de livre-comércio entre estes dois países e os Estados Unidos.

Segundo Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos, as notícias se alinham à percepção de uma abordagem menos bélica e mais estratégica da Casa Branca.

“Vem em linha com uma percepção que ficou depois da posse, dos discursos, de que as tarifas vão ser usadas muito mais como ferramenta de negociação do que simplesmente em uma guerra comercial aberta. A sensação de que o aumento de tarifas está com esse papel, defendido pela parte mais moderada da equipe econômica do Trump, está deixando o mercado com menos risco”, disse.

“Com tarifas mais brandas, o impacto inflacionário fica mais limitado e reabastece a discussão de que o Fed possa cortar juros, com dólar mais fraco ao longo do tempo, e abre espaço para as moedas diminuírem um pouco a pressão que existia”, acrescentou.

Matheus Massote, sócio da One Investimentos, ressalta que a percepção de que a política tarifária de Trump não será tão dura é relevante também porque afeta diretamente a expectativa em torno do resultado da balança comercial.

Ele aponta que, depois da piora na taxa de câmbio no final do ano passado em função de receios com a sustentabilidade das contas públicas e de fatores sazonais, como as remessas de capital de empresas ao exterior, a diminuição da percepção de risco colabora para que os investidores prestem mais atenção aos fundamentos – o que, no momento, favorece o real diante da forte depreciação observada em dezembro.

“A inflação não explodiu. Com os juros altos, a preocupação é com recessão no segundo semestre, não com a escalada da inflação. O Banco Central vem firme nos juros e, quanto mais perto estivermos da queda dos juros longos, mais isso propicia a entrada de estrangeiros para carry-trade”, afirmou.

Um outro fator que colaborou com a queda do dólar hoje foi a velocidade das perdas e o rompimento de níveis psicológicos relevantes – como a barreira dos R$ 6. “Havia uma posição técnica muito assimétrica. O mercado estava apostando em depreciação [de real]. Quando rompe determinados níveis, vem a zeragem destas posições”, disse Costa, da Monte Bravo.

O caminho para um real mais valorizado, porém, ainda pode enfrentar obstáculos. Segundo Glaucy Lima, gestora de câmbio da Fair Corretora, o fluxo de dólares para fora do Brasil ainda é relativamente grande.

“Há muita gente muito insegura com questões políticas. Entre os brasileiros ainda está saindo mais dinheiro do que entrando, vemos isso pelo fluxo da carteira de clientes. E na parte de turismo, tinha-se uma perspectiva de aumento [no ingresso de dólares] em janeiro e fevereiro, mas também não está entrando pagamento de estrangeiros”, afirmou.

O fluxo cambial do Brasil foi negativo em US$ 3,804 bilhões de 1º a 17 de janeiro, segundo dados preliminares divulgados nesta quarta-feira pelo Banco Central. O canal financeiro teve saída líquida de US$ 2,127 bilhões. O comercial, saldo negativo de US$ 1,677 bilhão. Os números porém, são anteriores à posse de Trump, no dia 20. E, na semana passada apenas, o fluxo foi positivo em US$ 806 milhões.

Juros

O alívio na curva de juros perdurou no período da tarde, seguindo o mesmo motivo da manhã: a queda acentuada do dólar. No fim da sessão as taxas se afastaram das mínimas intradia por um movimento técnico, mas operadores frisam que a percepção de que o presidente Donald Trump foi mais pragmático sobre tarifas contra a China contribuiu para um alívio nos prêmios de risco a uma semana da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que deve elevar a Selic em 1 ponto porcentual, conforme forward guidance da última reunião.

“Trump foi menos agressivo e mais pragmático no que diz respeito à questão tarifária”, contribuindo para um enfraquecimento do dólar e, consequentemente, em um arrefecimento das taxas de contratos de Depósito Interfinanceiro (DI), segundo o estrategista-chefe da corretora Monte Bravo, Alexandre Mathias. “Com certeza o enfraquecimento do dólar é o principal driver para os juros futuros hoje”, resume.

Para Mathias, o pragmatismo de Trump – que indicou tarifa de 10% às importações americanas da China a partir de 1º de fevereiro, abaixo dos 60% prometidos em campanha – ocorre porque “seria contraproducente do ponto de vista político e econômico fazer uma medida extremamente inflacionária como essa, considerando que o principal motivo para o republicano ter ganhado a eleição foi a inflação elevada no governo Biden”.

O estrategista-chefe da BGC Liquidez, Daniel Cunha, considera que “as imposições de tarifa pelo governo Trump não devem ser imediatas e serão usadas como instrumento de negociação, o que pode defasar/suavizar suas possíveis execuções e abrir espaço para alívio nas moedas e juros no curto prazo”.

Uma reportagem do Wall Street Journal nesta terça-feira apontou que o objetivo de Trump ao taxar produtos do México e Canadá era antecipar a negociação do acordo de livre-comércio entre estes dois países e os Estados Unidos.

Cunha, contudo, frisa que o comportamento do mercado de “tentar tirar muita lição nessas primeiras 48 horas de governo Trump não parece saudável”. Para ele, a tendência é de que a administração do republicano ainda deve trazer alguma aversão a risco e, com isso, “países emergentes, principalmente aqueles que não andam com o dever de casa em dia, são mais vulneráveis”.

Neste sentido, Mathias, da Monte Bravo, reitera que o fiscal continua como principal assunto doméstico para o Brasil. “Estamos com o fiscal muito fragilizado, e a dívida pública está crescendo de maneira muito mais explosiva do que o esperado. Como as últimas notícias sobre fiscal vieram piores do que o esperado, a ausência de novas notícias acaba sendo uma boa notícia”, diz.

Outro foco do mercado financeiro fica para o comunicado do Copom na próxima quarta-feira, 29. Como a autarquia contratou na última reunião duas novas altas de 1 ponto porcentual, o mercado aguarda mesmo pistas de um novo forward guidance. “Será um forward guidance no plural? No singular? Ou vai sumir? Existe ansiedade também sobre as atualizações quanto às projeções de inflação no cenário de referência do BC”, afirma Cunha, da BGC Liquidez.

O JPMorgan afirmou, em relatório, que o balanço de riscos do Banco Central parece inclinado para a necessidade de um aperto monetário mais agressivo do que o cenário-base do banco americano, de um juro básico terminal a 15,25%, assume. Contudo, “uma taxa Selic de 15,25% já seria a taxa de política monetária mais alta em quase 20 anos, resultando em uma taxa real ex-post de cerca de 10%, o que provavelmente é bastante restritivo, e o BC pode optar por esperar um pouco mais para ver o impacto desse aperto”, pondera.

O JP diz também que as estimativas do BC para a inflação, que devem ser atualizadas na próxima semana, devem permanecer acima da meta de 3% pelo menos até o terceiro trimestre de 2026.

Pesquisa do Projeções Broadcast estima que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15) deve cair 0,01% em janeiro (mediana), ante alta de 0,34% em dezembro. Já a média dos núcleos deve acelerar de 0,41% para 0,53%.

Matéria produzida pelo Broadcast.

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