A Monte Bravo realizou na noite desta quinta-feira (23/10/2025), no Rio de Janeiro, a 6ª edição de 2025 do Monte Bravo Experience.
O evento, promovido desde 2017, reúne especialistas, grandes gestores do mercado financeiro e clientes selecionados para discutir as principais tendências no cenário econômico e nos investimentos.
Nesta edição, o encontro contou com a participação de Rogério Xavier, fundador da SPX Capital, e dois palestrantes internacionais: Daniel Haddad, CIO da Avenue, e Alex Carpenter, Head de Investimentos Globais do Monte Bravo Family Office.
Um dos temas centrais do evento foi a diversificação de investimentos no exterior. Ao longo da última década, as empresas americanas lideraram ganhos de produtividade e, consequentemente, drenaram recursos de investidores de todo o mundo para os Estados Unidos.
Mas há um debate sobre concentrar investimentos nos EUA diante do risco fiscal maior não só para a economia americana, mas também para as de outros países desenvolvidos.
Nesse cenário, surgem oportunidades em ativos e setores defensivos (a alta recorde do ouro em 2025 é um reflexo desse movimento) e outros países com economia forte.
Veja a seguir os principais insights de cada painel do evento.
Painel 1: Cenário Macroeconômico e Perspectivas de Mercado
O painel contou com a participação de Alexandre Mathias, estrategista-chefe da Monte Bravo, e Rogério Xavier, fundador da SPX Capital. A moderação foi de Filipe Portella, cofundador e CEO da Monte Bravo.
Cenário global e oportunidades
- Paradoxo no mercado global: vivemos um cenário incomum no mercado global, com ouro e criptoativos na máxima, o que significa risco aumentado. Por outro lado, a bolsa americana também está na máxima, o que, em teoria, contradiz uma percepção de risco maior.
- Sustentação da economia americana: a economia dos EUA está sendo sustentada principalmente pelo crescimento da tecnologia e Inteligência Artificial (IA), e pelo “efeito riqueza” gerado pela alta das ações de tecnologia, que impulsiona o consumo.
- Risco de reavaliação das “Magnificent Seven” (Mag Seven):
- Mudança do modelo de negócios: empresas de tecnologia estão se tornando intensivas em capital, energia e ativos físicos (data centers, semicondutores), migrando de um modelo de “soft assets” (serviços, propaganda) para um modelo mais parecido com empresas industriais.
- Impacto no valuation: empresas de “soft assets” têm múltiplos (P/L) de cerca de 30x, enquanto empresas industriais têm múltiplos de 10x. Essa reclassificação pode levar a uma reavaliação (para baixo) do preço das ações das Mag Seven.
- Menos sobra de caixa: o alto investimento (CapEx) em IA está diminuindo a sobra de caixa dessas empresas, que podem precisar recorrer ao mercado de crédito no futuro.
- Risco de crise no setor de tecnologia:
- Empresas menores que orbitam as Mag Seven (desenvolvedores de apps) estão captando a juros altos (9% a 12% em dólar), esperando converter a dívida em ações.
- Se as Mag Seven forem reavaliadas para baixo, o preço de conversão dessas empresas menores também cairá, forçando-as a pagar o crédito. Como elas não têm caixa para isso, pode haver uma “mini-crise” no setor.
- Retorno sobre o investimento em IA (ROI):
- Não há espaço para sete ganhadores na corrida da IA; provavelmente haverá um ou dois.
- O investimento marginal em IA já pode ser negativo para algumas das sete empresas.
- Conta da IA não fecha para pessoa física: o custo real para o serviço de IA (estimado em US$ 500/mês) é muito superior ao que o consumidor paga (cerca de US$ 20/mês), indicando que a conta não fecha no modelo de subscrição individual.
- Risco chinês: a tecnologia chinesa é vista como tão boa ou melhor que a americana e pode ser oferecida de graça, o que questionaria o investimento americano.
“Não sei em que ponto do ciclo, mas é muito provável que a gente comece a ver essas empresas [software] sendo classificadas como industriais. E aí vai ter uma reavaliação do preço dessas companhias. Quando isso acontecer, parte dessa exuberância que a gente viu na evolução do preço vai ser corrigida, e isso pode afetar o consumo dentro dos Estados Unidos.”
— Rogério Xavier, SPX Capital
- Confiança mais fraca em relação aos EUA: o processo de normalização após a crise financeira de 2008-2009, ainda em curso, fomentou um período muito longo de aumento de produtividade e crescimento das empresas americanas. Em consequência, o mundo passou a concentrar investimentos nos Estados Unidos sem fazer hedge de moeda. Mas, a partir do governo Trump, começa-se a ter uma percepção de que é hora de revisitar tanto a parcela de dinheiro exposta ao mercado americano, quanto a ideia de não fazer hedge de moeda.
- Desconfiança no dólar e contas públicas dos EUA: a desconfiança no dólar é motivada pela falta de confiança na política dos EUA, especialmente na gestão das contas públicas. O país opera com a soma de déficits gêmeos (déficit nominal e em conta corrente) na casa de 11% do PIB, com alto endividamento e sem perspectiva de correção.
- Repressão financeira: EUA e Reino Unido estão adotando o que foi chamado de “repressão financeira”, uma prática também vista no Brasil que impede o governo de alongar sua dívida (tornar seus títulos longos atrativos).
- Mecanismo: o governo força os bancos a comprar títulos públicos, oferecendo “moleza” regulatória (alavancagem de 100x) e financiamento no final do dia (“zerada automática”), encurtando o prazo da dívida.
- Consequência: o título público perde a capacidade de sinalizar o risco real, pois seu valor é artificialmente mantido. O risco aparece nos derivativos (como o swap spread), que não são influenciados pelo Tesouro ou Banco Central.
- Expectativa de inflação: a repressão financeira leva a uma expectativa de inflação mais alta, com o Fed estaria cooptado pelo governo.
- Dicotomia Wall Street vs. Main Street:
- Wall Street (grandes corporações): recebe incentivos (cortes de impostos, aumento de produtividade, intervenção) e está em alta.
- Main Street (pessoas comuns): sofre com preços mais altos, leniência do Fed no combate à inflação, juros altos (dificuldade em financiar casas) e, principalmente, com a perda de empregos devido à automação e IA (motoristas de aplicativo, caminhoneiros, funcionários de big techs).
- Conflito: essa disparidade social deve se amplificar, colocando mais pressão sobre o governo (seguro-desemprego, auxílio-moradia) em um momento de contas públicas já fragilizadas.
- Setores para investimento (além das Big Techs):
- Defesa e terras raras: setores ganham destaque diante da guerra comercial dos EUA contra a China e conflitos no Oriente Médio e Rússia-Ucrânia.
- Energia: ganham destaque com a corrida pela Inteligência Artificial. Há uma crise contratada na Califórnia devido à demanda substancial de data centers. A questão energética é fundamental, com a China investindo 10x mais em geração adicional de energia que os EUA.
- Diversificação global: a bolsa brasileira é pouco diversificada (50% commodities, 30% bancos), e a única forma de acessar setores de inovação é através da diversificação global.
Cenário brasileiro
- Eleições 2026: acredita-se que o PT (centralizado na figura do presidente Lula) está no fim de um ciclo e pode perder as próximas eleições, uma vez que não tem sucessores de peso. Esse resultado nas urnas traria previsibilidade e um horizonte de longo prazo para investimentos.
- Risco fiscal: a dívida pública brasileira deve crescer de 71,7% para 84%-85% do PIB até o fim do atual governo. A próxima eleição terá poucos caminhos em relação ao tema. Os cenários são de ajuste com credibilidade (mais benéfico), sem credibilidade ou nenhum ajuste.
- Produtividade e Crescimento:
- O crescimento de um país depende de oferta de mão de obra, capital e produtividade.
- A única coisa que os governos influenciam é a produtividade. O Brasil constrói políticas antiprodutividade há muito tempo, o que impede o crescimento.
- Carga fiscal: a carga sobre quem faz o país andar para a frente tem um limite, e se ficar grande demais, o país para.
- Visão de longo prazo: as pessoas mais velhas estão jogando a conta para os mais jovens, e a discussão política no Brasil está envelhecida, focada em pautas identitárias em vez de políticas de produtividade e fiscal de longo prazo.
Painel 2: Como montar uma carteira à prova de Brasil
Participaram do painel Alex Carpenter, Head de Investimentos Globais do Monte Bravo Family Office, e Daniel Haddad, Partner e CIO da Avenue. A moderação foi de Pier Mattei, cofundador e CEO da Monte Bravo.
- Investimentos internacionais como prioridade: o investimento internacional se consolidou na agenda do investidor brasileiro como uma forma de diversificação e proteção de patrimônio.
- Motivações para investir fora:
- Proteção cambial: o câmbio é a válvula de escape de países emergentes; o dólar é visto como a moeda de reserva mais estável (o real já teve 10 moedas diferentes desde 1934).
- Poder de compra: cerca de 18% do consumo do brasileiro é dolarizado, e a inflação pessoal é maior que o IPCA devido à oscilação cambial.
- Acesso a oportunidades: o mercado americano oferece um leque de investimentos muito maior, com mais de 1.700 IPOs desde 2021 (contra nenhum no Brasil) e 1 mil empresas internacionais listadas.
- Mercado global: o mercado americano (ações e dívida) soma US$ 100 trilhões, o dobro dos nove principais mercados seguintes, sendo o ponto de encontro do capital global.
- Concentração e valuation do S&P 500:
- As “Magnificent Seven” (Mag Seven) representam 30% do S&P 500, puxando o valuation do índice para cerca de 24x.
- O valuation médio das outras 493 empresas é de 17x, mais próximo da média histórica.
- A percepção é que a “bolha” de tecnologia ainda está em fase de inflação, impulsionada por condições de liquidez favoráveis (Fed deve parar o quantitative tightening).
- Excepcionalismo americano (visão estrutural):
- Demografia: os EUA sugam talentos e mantêm a população economicamente ativa estável via imigração, enquanto 184 de 193 países terão declínio populacional nos próximos 20 anos.
- Economia: 4% da população mundial (EUA) consome 30% do que é produzido. O estado mais pobre (Mississippi) tem PIB per capita 5x maior que o do Brasil.
- Produtividade: a onda de produtividade da IA deve se concentrar nos EUA, mantendo o dólar forte e juros mais altos que o resto do mundo.
- Risco de curto prazo: o crescimento atual é sustentado pelos 10-15% mais ricos, enquanto a classe média está fraca, endividada e sem poupança.
- Juros nos EUA: a previsão para a taxa de juros americana é incerta, com grande dispersão no dot plot do Fed. Ou seja: as projeções dos próprios dirigentes da autoridade monetária para os juros nos EUA são divergentes. Isso porque as principais variáveis observadas para definir os juros nos EUA, o mercado de trabalho e o comportamento da inflação, mudaram de comportamento no pós-pandemia e se tornaram menos previsíveis.
“Desde a pandemia, as variáveis econômicas passaram a se comportar de maneira diferente. Antes, o salário era a única ferramenta para o trabalhador negociar. Hoje, trabalhar de casa faz a inflação ter um comportamento diferente. O fato é que o Fed deve reduzir uma ou duas vezes [os juros] até o final do ano por conta do mercado de trabalho, mas depois é difícil saber.”
— Daniel Haddad, Avenue
- Setores e estratégias atuais de investimento:
- Renda variável: preferência por S&P com peso igual (equal weight), Europa e Mercados Emergentes, que estão com valuation mais razoável.
- Software: segmento que mais se beneficiará da IA, sendo uma forma justificada de investir na tecnologia.
- Defesa: setor atrativo na Europa devido à necessidade de maior investimento pós-conflito na Ucrânia e à esperada consolidação de empresas europeias.
- Renda fixa (bonds): o prêmio na curva está nos títulos mais longos (acima de 5 anos). Bonds corporativos de alta qualidade (ex: Meta, Northrop Grumman) oferecem retornos acima de 6% em dólar, garantindo renda com baixo risco.
- Ouro: ativo de proteção contra a desvalorização do dólar. A compra contínua por bancos centrais (China, Índia) pós-congelamento de reservas russas mantém o preço do ouro em alta.
- Alternativas ao dólar (renda fixa): para quem não confia no futuro fiscal dos EUA, países com rating AAA e juros similares ao dólar são Noruega, Austrália e Nova Zelândia (estes dois últimos com exposição a commodities).
“Se você não acredita nos Estados Unidos, existem três países [com rating] AAA e juros parecidos: Noruega, Austrália e Nova Zelândia. Esses aí são opções para investir, defender o seu portfólio em renda fixa e [mitigar] o risco dos EUA.”
— Alex Carpenter, Monte Bravo Family Office
- Modelo Fee-Based:
- A Monte Bravo está adotando o modelo fee-based (remuneração por taxa sobre o patrimônio) no Brasil, que já é a realidade nos EUA (75% dos clientes).
- Vantagem: o modelo cria um alinhamento de interesses, pois o assessor tem o dever fiduciário de oferecer o melhor produto para o cliente, pensando no longo prazo, e não o que gera maior comissão no curto prazo.
A próxima edição do Monte Bravo Experience está marcada para 30 de outubro de 2025, em Porto Alegre. Veja a programação completa no site oficial do Monte Bravo Experience.
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