Após semana mais importante do ano, mercado espera ajuste fiscal crível

11/11/2024 às 11:27

11

Segunda

Nov

3 minutos de leitura
Compartilhar
  • Semana passada foi a mais importante do ano, com eleições, juros e estímulos na China em pauta;
  • Agenda de campanha de Trump cria expectativa sobre medidas em várias áreas;
  • Política econômica do novo governo americano pode pressionar câmbio e fluxo para países emergents;
  • No entanto, a variável mais importantes para os ativos domésticos é o quadro fiscal;
  • Brasil precisa de ajuste fiscal para deter a trajetória explosiva da dívida.

Cenário global

Nos EUA, Trump será o 47⁠º presidente dos EUA. O candidato levou os Republicanos a uma vitória ampla nas eleições, com controle do Senado e da Câmara. A agenda de campanha cria expectativa sobre medidas em várias áreas:

Fiscal:  espera-se a extensão do Tax Cut and Jobs Act (TCJA) de 2017, com novos cortes de impostos — uma das principais bandeiras na campanha — A medidas seria um estímulo para a economia, mas traria mais inflação.

Tarifas: o presidente eleito falou de uma tarifa de 10% sobre todos os parceiros comerciais e de uma tarifa ‘especial’ de 60% para a China. Isso também geraria mais pressão à inflação.

Imigração: a ideia de atuar agressivamente contra imigrantes ilegais também teria efeito sobre a oferta de mão-de-obra — gerando inflação e recessão

Desregulamentação dos setores financeiro e de energia

Petróleo:  aumentar a produção de petróleo para 3 milhões de barris/dia.

A ideia vendida na campanha é de acelerar o crescimento — o que ajudaria a reduzir o déficit — enquanto a queda do petróleo controlaria a inflação. O mercado aumentou o prêmio na curva de juros com medo de inflação, enquanto as bolsas sobem com a aceleração da atividade, desregulação e menos impostos.

Na prática, as propostas carecem de consistência econômica e será preciso esperar a equipe econômica para ter o desenho e o cronograma das medidas, Somente assim, será possível  estimar os impactos sobre inflação, atividade e juros e, consequentemente, sobre o dólar e os fluxos de capitais.

O Fed cortou a taxa de juros em 25 pontos base, para a faixa de 4,50% a 4,75% ao ano, conforme amplamente esperado. Na entrevista, perguntado sobre o que espera diante do resultado das eleições, Powell respondeu: “No curto prazo, as eleições não terão efeito sobre nossas decisões […] Não sabemos qual será o momento e o conteúdo de eventuais mudanças políticas.”.

O Fed deve seguir com o ciclo de cortes de juros, reduzindo 25 p.b. em dezembro e, a partir daí, adaptar o ciclo ao cenário do governo Trump. Para 2025, o cenário será mais complicado se a nova administração realmente implementar tarifas significativas ou adotar políticas inflacionárias e, a taxa dos Fed Funds pode atingir um piso mais próximo de 4% do que de 3% no próximo ano.

Cenário doméstico

Por aqui, o Copom elevou a taxa de juros para 11,25% a.a. O comitê citou um balanço de risco assimétrico — em função do ambiente externo desafiador, do forte dinamismo da atividade e mercado de trabalho e da desancoragem das expectativas —, assim como a deterioração fiscal que pressiona o câmbio.

O Copom ressaltou o impacto fiscal sobre os juros: “Os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. A percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal tem afetado, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco e a taxa de câmbio. O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida, com a apresentação e execução de medidas estruturais para o orçamento fiscal, contribuirá para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”.

A questão fiscal segue em foco. A espera de um pacote fiscal que indicará o quanto o governo está comprometido em cumprir as regras do arcabouço fiscal que ele mesmo aprovou em agosto de 2023 e, em abril de 2024  mudou as metas, o que gerou uma intensa corrosão da credibilidade fiscal e está na raiz da disparada dos juros e do câmbio.

O mercado segue na expectativa das medidas e, a despeito da prática pouco usual de chamar os representantes das áreas que terão cortes para a mesa, o presidente Lula precisa ser pragmático e entregar um ajuste fiscal robusto que detenha o crescimento explosivo da despesa e da dívida.

A redução do risco fiscal levaria a uma apreciação do câmbio com impactos positivos sobre todos os ativos brasileiros. Sem isso, a dólar vai passar rapidamente de R$ 6,00 seguir em alta, gerando uma crise econômica grave — similar à fase terminal do governo Dilma —, que dificultaria a perspectiva política do incumbente.

Artigos Relacionados

  • 22

    Terça

    Abr

    22/04/2025 às 09:44

    Informe Semanal

    Tensão entre Trump e o Fed pressiona mercados americanos; dólar atinge menor nível em três anos

    Os mercados globais seguem sensíveis diante da incerteza gerada pela guerra tarifária e pela atitude errática do presidente norte-americano. O S&P 500 recua 8,0% no mês e acumula perda de 12,3% no ano. O Nasdaq Composite cai 3,50% em abril e recua 19,00% em 2025. O presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou que as tarifas …

    Continue lendo
  • 14

    Segunda

    Abr

    14/04/2025 às 09:50

    Informe Semanal

    Interrupção das tarifas impulsiona mercados, mas nível de incerteza continua em alta

    Cenário global O tarifaço de Trump vai entrar para a história como a primeira crise auto infligida da história. O temor com tarifas continua no centro das atenções, mesmo após a redução temporária para a alíquota universal de 10% — com exceção da China, cujos produtos passam a ser taxados em 145%. A extensão do …

    Continue lendo
  • 31

    Segunda

    Mar

    31/03/2025 às 09:06

    Análise

    Informe Semanal Monte Bravo Corretora — 31/03 a 04/04/2025

    📄 Para conferir o Informe Semanal completo em PDF, clique aqui. Cenário global Os dados de inflação e gastos das famílias surpreenderam negativamente em fevereiro na economia americana. O núcleo do PCE registrou alta de 0,4% na margem, acima da expectativa de alta de 0,3%. A maior pressão de serviços, como saúde, serviços financeiros e de …

    Continue lendo