Informe Diário
16/09/2024 • 4 mins de leitura
Antes da superquarta, ativos de risco seguem em compasso de espera
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Os mercados de ações norte-americanos pouco se importaram com a enxurrada de anúncios tarifários desta semana. Isso impulsionou o S&P 500 e o Nasdaq a máximas históricas.
A questão que paira agora é qual tarifa a União Europeia terá de absorver, após semanas de negociações para um acordo-quadro de comércio. O presidente Donald Trump indicou, na noite anterior, que o bloco receberia hoje uma carta detalhando suas novas tarifas.
Na quinta-feira (10), Trump elevou as tarifas sobre importações do Canadá para 35%, com vigência em 1º de agosto, alegando que Ottawa havia revidado com impostos sobre produtos norte-americanos. Também na ontem, Trump afirmou que pretende impor encargos de 15% ou 20% à maior parte dos demais parceiros comerciais.
Grande parte do peso tributário recai sobre o consumidor norte-americano, após um intervalo de alguns meses. Investidores, acostumados a esperar recuos de Trump, pressupõem agora que ele reduza essas taxas. O próprio presidente, porém, sugeriu ontem que o vigor das bolsas seria evidência de que os mercados adoram tarifas. Eis o paradoxo: os mercados sobem apostando no recuo, mas, ao subirem, minam a justificativa para esse recuo.
Nesta sexta-feira (11), as taxas dos Treasuries dos EUA avançaram. A nota de 10 anos subiu mais de 3 pontos base, a 4,38%. A de 30 anos ganhou 4 p.b., a 4,91%. A de 2 anos subiu 2 p.b., a 3,89%. O índice do dólar (DXY), que compara a moeda a seis pares relevantes, sobe 0,10%, para 97,40 pontos.
Os preços do petróleo se estabilizaram no início dos negócios de sexta, após queda de 2,00% na sessão anterior. Os contratos futuros do Brent sobem US$ 0,19 (0,28%), para US$ 68,83 o barril.
No mercado Ásia-Pacífico, o Nikkei 225 recuou 0,19%, enquanto o CSI 300, da China continental, subiu 0,12%. Na Europa, o ânimo azedou após quatro dias de ganhos sólidos, com todos os setores do STOXX 600 abrindo em baixa — exceto petróleo e gás e seguros. O índice regional caiu 0,46%. Os futuros das ações norte-americanas operam em leve baixa.
Ontem, no rescaldo da surpreendente tarifa sobre o Brasil, o Ibovespa fechou em queda de 0,54%, a 136.743 pontos. A Embraer (EMBR3) caiu 3,70%, diante da perspectiva de ser uma das mais afetadas. A WEG (WEGE3) e a Suzano (SUZB3) recuaram 0,52% e 0,30%, respectivamente. Por outro lado, as ações da Vale (VALE3) subiram 2,29%, a R$ 55,28, seguindo a alta de 3,67% do minério de ferro na Bolsa de Dalian, ajudando a mitigar as perdas do dia.
O dólar comercial fechou em queda de 0,72%, a R$ 5,54. Os juros futuros encerraram sem direção única, com os prazos mais curtos em alta e o restante da curva próximo da estabilidade.
EUA: A presidente do Fed de São Francisco, Mary Daly, afirmou que ainda considera provável a realização de dois cortes na taxa de juros em 2025. Para ela, os impactos inflacionários das tarifas podem ser mais brandos do que se estimava inicialmente, já que muitas empresas estão repartindo os custos com os fornecedores e absorvendo parte deles em suas margens de lucro. Essa estratégia limita o repasse ao consumidor final e, consequentemente, reduz a pressão inflacionária. Daly avaliou que a economia dos EUA segue em boa situação e destacou que a inflação está se encaminhando para a meta de 2%.
O presidente do Fed de St. Louis, Alberto Musalem, adotou uma postura mais cautelosa. Segundo ele, ainda é cedo para determinar se os efeitos das tarifas serão temporários ou persistentes. Musalem afirmou que os impactos devem começar a aparecer nos dados entre junho e setembro, mas que será necessário mais tempo para avaliar plenamente suas implicações sobre a atividade.
Por sua vez, o diretor do Board do Federal Reserve, Christopher Waller, defendeu a continuidade da redução do balanço patrimonial do Fed, mas em ritmo mais gradual. Ele propôs reduzir o volume de reservas bancárias para cerca de US$ 2,7 trilhões e o balanço total para aproximadamente US$ 5,8 trilhões. Waller também sugeriu manter mais ativos de longo prazo na carteira do Fed, para evitar distorções na curva de juros. Além disso, avaliou que a taxa de juros atual está excessivamente restritiva e poderia ser cortada já na próxima reunião, embora reconheça estar em minoria entre os dirigentes.
Brasil: O IPCA subiu 0,24% em junho, em linha com a nossa expectativa, mas acima do consenso do mercado. A composição do índice foi menos favorável, com núcleos de inflação ainda elevados. Apesar disso, os bens mantiveram comportamento benigno, limitando o repasse da depreciação cambial. Os serviços, por sua vez, aceleraram na margem, com destaque para alimentação fora do domicílio e transporte por aplicativo.
Os núcleos de inflação permaneceram pressionados, com alta de 0,29% em junho, levemente abaixo dos 0,30% de maio. No acumulado em 12 meses, a variação ficou estável em 5,2%. O núcleo de bens desacelerou para 0,05% em junho, enquanto o núcleo de serviços, excluindo passagens aéreas, registrou alta de 0,43% e seguiu elevado em 6,8% na comparação anual. A inflação de serviços permanece preocupante, exigindo juros reais elevados para conter a demanda e o mercado de trabalho.
Diante desse cenário, o Banco Central deve manter a Selic estável em 15,00% ao ano por um período prolongado. A projeção é que a inflação convirja para a meta até o início de 2026, permitindo o início do ciclo de cortes de juros a partir de janeiro daquele ano, com a Selic recuando até 11,00% ao final do ciclo. Para julho, é esperada nova alta de 0,37% do IPCA, influenciada pelo reajuste da energia elétrica em São Paulo e pela alta sazonal nas passagens aéreas. A projeção para o IPCA em 2025 foi mantida em 5,5%.
(1) Cotações tomadas às 8h BRT trazem o fechamento do dia dos ativos asiáticos, o mercado ainda aberto para ativos europeus e futuros e o fechamento do dia anterior para os ativos das Américas.
(2) Ativos de renda fixa apresentam a variação em pontos-base (p.b.), esta é a forma como o mercado expressa variações percentuais em taxas de juros e spreads. O ponto-base é igual a 0,01% ou 0,0001 em termos decimais. Os demais ativos mostram a variação em percentual.
Fonte: Bloomberg.
Por:
Alexandre Mathias | Luciano Costa | Bruno Benassi |
Estrategista-chefe da Monte Bravo Corretora | Economista-chefe da Monte Bravo Corretora | Analista de Ativos CNPI: 9236 |