Economia
11/05/2023 • 5 mins de leitura
Como as decisões do Copom e FED impactam seus investimentos
O que você vai ler neste artigo As reuniões do…
Nesta quarta-feira (29), o Federal Reserve concluiu mais uma reunião do seu comitê de política monetária, o FOMC. Esta foi a oitava reunião do comitê em 2025, que ainda realizará um último encontro entre os dias 9 e 10 de dezembro.
A expectativa do mercado é que o Fed realize mais um corte de 25 pontos base na taxa dos Fed Funds em dezembro, levando a taxa básica de juros da economia norte-americana para a faixa de 3,50% a 3,75% ao ano.
Mas, afinal, quais são os impactos da decisão do FOMC? No artigo de hoje, vamos explicar em detalhes como as decisões do banco central americano influenciam a economia global e o mercado de investimentos.
Você vai entender:
O Federal Reserve, popularmente chamado de Fed, é o banco central dos Estados Unidos. A instituição foi fundada em 1913, com a missão de, segundo o próprio Fed, estabelecer um sistema monetário com capacidade de responder de maneira eficaz a momentos de estresse no sistema bancário.
Assim como o Banco Central do Brasil, uma parcela crucial das atribuições do Fed é a condução da política monetária da maior economia do mundo.
Dentro da estrutura do Fed, o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) é o comitê responsável pela condução da política monetária norte-americana. Fazendo um paralelo com o Brasil, o FOMC é o equivalente ao Comitê de Política Monetária (Copom) do nosso BC.
O FOMC se reúne, por padrão, oito vezes por ano. Em 2025, ao todo, o comitê se reunirá nove vezes — restando, além do anúncio de ontem, a reunião realizada entre os dias 9 e 10 de dezembro.
As taxas de juros são a principal ferramenta à disposição dos bancos centrais para cumprir o seu objetivo de regulamentação do sistema financeiro. Dentro do sistema financeiro, as taxas determinadas pelos bancos centrais são conhecidas como taxas de juros básicas.
Segundo o economista-chefe da Monte Bravo, Luciano Costa, as taxas de juros definidas pelos bancos centrais se refletem principalmente na liquidez dos mercados. Isso acontece porque, conforme os juros sobem ou descem, investidores direcionam suas atenções para diferentes tipos de investimentos.
“O principal canal de transmissão (da política monetária) é a liquidez. Conforme os juros caem ou sobem, a liquidez no mundo é afetada”, explica Luciano.
De maneira geral, os juros são definidos pelos bancos centrais para estimular ou arrefecer a economia com o objetivo de cumprir as metas de inflação estabelecidas.
No nosso cotidiano, o impacto mais visível dos juros é no consumo. Com juros mais baixos, o retorno dos investimentos em renda fixa fica menos atraente e a tomada de crédito fica mais facilitada e barata. Esta dinâmica estimula o consumo.
Na outra ponta, juros mais altos aumentam os retornos da renda fixa, aumentando os custos da tomada de crédito, diminuindo o apetite por investimentos de maior risco. Esta dinâmica, por sua vez, desestimula o consumo.
O Fed, especificamente, trabalha com um “mandato duplo”, onde o banco central também é responsável por cumprir metas de taxa de emprego.
“Aqui no Brasil só tem o mandato de inflação, teoricamente não existe o mandato de emprego, mas todos os bancos centrais têm um objetivo em comum que é atingir a meta de inflação no horizonte relevante”, aponta o economista.
Para definir a taxa adequada para cumprir com seus objetivos de inflação e emprego, O Fed precisa analisar os dados da economia norte-americana para entender outro elemento importante: a taxa de juros neutra.
“A taxa de juros neutra é uma referência que não sabemos exatamente o seu valor”, comenta Luciano. “Esta é uma variável não observável, que serve como referência para o nível de aperto (monetário) que você (banco central) está fazendo sobre a economia”.
De maneira resumida, a taxa de juros neutra serve como um referencial que separa os patamares contracionista e expansionista dos juros. O nível da taxa neutra depende de diversos fatores econômicos e pode mudar de acordo com o contexto.
Existe hoje, inclusive, um debate dentro do Federal Reserve sobre a possibilidade de que a taxa de juros neutra pode ser mais alta do que o mercado se acostumou ao longo das últimas décadas. Isso significa, na prática, que o patamar de juros ideal para manter a dinâmica de emprego e inflação na economia americana pode estar mais alto e que o ciclo de cortes promovido pelo FOMC pode acabar mais cedo do que em ciclos anteriores.
Como explicado acima, o principal impacto dos juros no mercado financeiro é refletido através da liquidez dos ativos. Como autoridade monetária da principal economia do mundo, no entanto, os impactos das decisões do Federal Reserve ultrapassam as fronteiras dos EUA.
“Isso acontece porque os títulos do Tesouro Americano são os ativos de menor risco que temos na economia”, aponta Luciano Costa.
As decisões de juros do banco central norte-americano são o principal fator de influência sobre as taxas dos títulos do Tesouro Americano — os Treasuries —, principal benchmark do mercado global.
A mesma lógica aplicada ao consumo pode ser usada aqui: quando os juros dos Treasuries sobem, o apetite ao risco diminui. Esse movimento afasta investidores da renda variável e mercados de maior risco, como economias emergentes — entre eles, o Brasil.
Os juros mais baixos diminuem a atratividade dos Treasuries e, com isso, investidores buscam retornos em ativos de maior risco. Esse movimento estimula os investimentos em ativos de renda variável e em economias emergentes.
“Com a queda dos juros dos Treasuries, os investidores ficam mais propensos a tomar risco para ter um retorno maior em outros ativos, seja bolsa, private equity ou investimentos em países emergentes”, explica Luciano. “Então, em um contexto em que o Fed esteja cortando os juros, dificilmente você não vai ter um ciclo de valorização dos ativos”.
Esse fluxo de investimentos também se reflete nas taxas de câmbio a nível global. Com os juros nos EUA em níveis elevados, a tendência é de uma concentração dos portfólios em ativos do mercado norte-americano, o que valoriza o dólar ante as demais moedas.
Os juros em alta, ao aumentar a tomada de risco, acabam direcionando investimentos para outras economias — seja via renda variável ou renda fixa com juros mais altos. Esse fluxo desvaloriza o dólar e favorece as moedas dos países que recebem estes investimentos.
Além da liquidez, um canal de transmissão dos juros nos EUA para países emergentes através do diferencial de juros, também conhecido no mercado como carry trade.
“Como a gente normalmente tem uma taxa de juros elevada aqui no Brasil elevada, quando os juros lá fora caem, o diferencial de juros fica a favor do Brasil e isso atrai capitais”, comenta Luciano. “Então, quando se tem uma queda de juros lá fora, esse movimento de entrada de dólares se intensifica”.
Bruno Benassi, analista de ativos da Monte Bravo, destaca como o movimento de rebalanceamento dos portfólios globais influencia os mercados.
“Normalmente, pensando que a economia reacelere ano que vem com o Fed cortando os juros, o dólar perde força”, explica. “Nesses movimentos em que o dólar perde força, commodities andam bem. Então, isso também seria um potencializador de fluxo para emergentes exportadores de commodities — como é o caso do Brasil”.
Acima, você já aprendeu como a variação dos juros influencia o apetite a risco dos investidores e os fluxos de capital a nível global. Mas, de maneira mais prática, como isso influencia os nossos investimentos?
Para Benassi, a resposta é complexa, mas empresas de maior capitalização e liquidez costumam ver suas ações performarem sofrerem menos em momentos de juros altos. Nestes cenários, o setor bancário costuma entregar certa robustez às carteiras dos investidores.
Na outra ponta, ações mais sensíveis aos juros costumam depender mais de taxas mais baixas para performar.
“Temos um cenário de queda de juros nos Estados Unidos e queda de juros no Brasil, o investidor estrangeiro também tenta capturar essa inflexão de ciclo no Brasil. Então, por isso, a gente tem visto algumas ações sensíveis a juros que têm alguma liquidez performarem”, explica o analista. “Assim, algumas construtoras, shoppings e saúde têm performado bem nesse ano”.
Graças ao movimento comum citado acima de valorização de commodities com cortes de juros, empresas de commodities costumam surfar um bom momento. Para Benassi, no entanto, este pode não ser o caso o atual ciclo.
“Se o cenário fosse apenas de corte de juros lá fora, eu diria que (empresas de) commodities andariam bem”, comenta. “Mas, como tem um corte de juros a vista no Brasil também, eu considero que os segmentos de maior liquidez e sensíveis a juros vão andar melhor. Sobre commodities, eu tenho algumas dúvidas”.
Para melhor atravessar os ciclos de alta e de cortes dos juros, a melhor estratégia é ter um plano de alocação bem estruturado e alinhado com suas necessidades e objetivos, com foco em horizontes de médio e longo prazo. Mantenha a convicção no seu portfólio e evite tomar decisões apressadas diante de notícias priorizando estratégias de curto prazo.
A diversificação internacional da sua carteira também é essencial para manter os seus investimentos mais bem protegidos, evitando a exposição a um só mercado. Lembre-se, afinal, que o mercado brasileiro corresponde a apenas 1% do mercado global e, por isso, expor seu patrimônio a outras economias e moedas — como dólar — multiplica suas opções de investimento e sua capacidade de diversificação.
Na Monte Bravo, sabemos que encontrar espaço na rotina para estudar as tendências do mercado pode ser um obstáculo para muitos investidores. Por isso, temos um time de especialistas que ajudam você a definir uma estratégia adequada e montar o seu portfólio.
Além de orientar você a montar a sua carteira, nossos especialistas em investimentos monitoram oportunidades no mercado diariamente. Cada oportunidade que chega até você é filtrada de acordo com seu perfil de investidor e seu portfólio.
Caso você seja cliente da Monte Bravo, entre em contato com seu assessor de investimentos.
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