Por Bruno Madruga, Sócio e Head de Renda Variável da Monte Bravo Investimentos
A inflação vem preocupando o mercado e, claro, os investidores brasileiros. Com a disparada dos preços de insumos, alimentos, gás, gasolina e dólar, a visão de que a alta da inflação seria transitória já caiu por terra. Essa preocupação vem provada em um levantamento divulgado nesta sexta-feira, 29, pelo grupo suíço UBS.
A pesquisa foi realizada com 150 investidores e 50 empresários no Brasil com ao menos US$1 milhão em investimentos ou receitas anuais. No mundo, mais de 3 mil investidores foram ouvidos. O período do estudo, no entanto, não abrange a piora da percepção fiscal no país, depois do furo no teto de gastos. Também ficou de fora a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que decidiu apertar a Selic, ficando em 7,75% ao ano.
Antes de te explicar por que está tudo tão caro no Brasil e como isso impacta os seus investimentos, é importante eu te contar o que é a inflação e como funciona o processo inflacionário.
O que é a inflação?
A inflação é, de uma forma simplificada, o aumento dos preços de bens e serviços. Ela aumenta quando há um desequilíbrio entre a demanda dos consumidores por algo e a oferta insuficiente de produtos ou o contrário. Ou seja: ela impacta diretamente o poder de compra da população.
O momento que vivemos é um retrato disso. Com a chegada da pandemia do coronavírus, a oferta de diversos produtos foi afetada em todo mundo. A procura, no entanto, continuou semelhante – e agora está em crescimento. Mesmo com a retomada de alguns setores pós-vacinação, o ritmo de recuperação ainda é lento. A crise mundial impacta diretamente no valor do dólar, moeda referência, que ultrapassa R$5,50. E isso, você já sabe, provoca um aumento nos preços de diversos insumos aqui e em outros países.
As condições climáticas também garantem o forte impacto na produção. Aqui no Brasil, por exemplo, a alta do açúcar é provocada pelo prolongamento da seca e do temor de geadas. É um efeito cascata: Dólar sobe, fica difícil comprar insumos, os produzidos ficam caros para a população. Esta, por sua vez, para de comprar e toda cadeia fica prejudicada.
No Brasil, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é o que mede a inflação. Através dele, é estimado o custo de uma cesta de produtos e serviços que reflete padrões e hábitos de consumo de famílias brasileiras com renda mensal de 1 a 40 salários mínimos.
Em outubro, o IPCA foi a 1,20%. A taxa é 0,06 ponto percentual acima da taxa de setembro (1,14%). Foi a maior variação para o mês de outubro desde 1995. Com a escalada da inflação, o Banco Central já sinalizou aumentos mais intensos da taxa básica de juros.
E qual o impacto disso? No cenário atual do Brasil, o Banco Central sobe a Selic para deixar o custo do crédito mais caro e, assim, controlar o IPCA. Juros baixos fazem com que o crédito fique mais barato, o que facilita a tomada de recursos para os investimentos de empresas e consumo da população. Mas isso não vem acontecendo.
Com a Inflação alta sendo mais longa que o previsto, o Banco Central se viu obrigado a aumentar os juros. Na penúltima reunião do Copom, a Selic subiu de 5,25% para 6,25%, e o Banco Central indicou que esse ciclo de alta poderia ser maior.
Esse cenário também provoca aumento do custo da dívida pública, uma vez que as taxas de juros têm de compensar o efeito da inflação e incluir um prêmio de risco para equilibrar as incertezas provocadas pela alta de preços.

Como a inflação impacta os seus investimentos?
No mercado financeiro, sempre que há uma crise, falamos em oportunidades. E, embora esse momento seja delicado economicamente, ele apresenta chances de ganhos para os investidores mais atentos às movimentações do mercado, na renda fixa e na variável.
Em primeiro lugar, é importante pensar nos produtos que estão ficando caros: quais os alimentos e commodities? Quem são as produtoras desses insumos? Neste momento, elas estão lucrando mais. Vou te dar um exemplo: O combustível está caro, certo? O último resultado trimestral da Petrobras mostrou um forte ganho aos acionistas. A empresa aprovou o pagamento de nova antecipação da remuneração relativa ao exercício de 2021 no valor de cerca de R$32 bi. Outro exemplo? O preço da carne está alto. Já pensou em olhar para frigoríficos? Podem ser boas opções no momento.
Se você não é fã da renda variável ou se, sabiamente, diversifica seus investimentos, a renda fixa também apresenta oportunidades. A atenção deve ser especial para os ativos atrelados ao IPCA. O mesmo vale para títulos privados, CRIs, CRAs e debêntures que pagam o IPCA + taxa fixa. Com o aumento da Selic, o CDI também cresce, tornando-se novamente atrativo para o(a) investidor(a).
É claro que esses investimentos precisam ser estudados e avaliados de acordo com o seu perfil e objetivos. Meu ponto aqui é: existem oportunidades. E este é o momento de avaliá-las e adequá-las ao que você planeja. Converse com seu(a) assessor(a) de investimentos.